O Papa Francisco alertou os novos cardeais, e restante Colégio Cardinalício, para a “falsa segurança” de sentirem que a Igreja “grande, sólida” de hoje “é diferente, não é como no início”, na Missa que presidiu na Basílica de São Pedro.
“A Palavra de Deus hoje desperta em nós admiração de estar na Igreja, de ser Igreja! E é isso que torna atraente a comunidade dos crentes, primeiro para si e depois para todos: O duplo mistério de ser abençoado em Cristo e ir com Cristo ao mundo”, disse o Papa, na homilia da Missa que encerrou dois dias de debate sobre a reforma na Cúria Romana.
Segundo Francisco, essa admiração “não diminui” nos cardeais com o passar dos anos, “nem diminui com o crescimento das responsabilidades na Igreja”: “Graças a Deus não. Fortalece-se, torna-se mais profunda”.
A partir do mandato missionário de Jesus aos discípulos – “Ide, fazei discípulos de todos os povos” – e a “promessa final, que “infunde esperança e consolação”, de estar com eles – “todos os dias, até ao fim dos tempos” -, do Evangelho de São Mateus (Mt 28, 19-20), o Papa salientou que “estas palavras ainda têm força para fazer vibrar” os corações, dois mil anos depois.
“Não acaba de nos maravilhar a insondável decisão divina de evangelizar o mundo a partir daquele miserável grupo de discípulos, que ainda estavam em dúvida. Mas, olhando mais de perto, não é diferente a admiração que nos invade se olharmos para nós, aqui reunidos, a quem o Senhor repetiu aquelas mesmas palavras, aquele mesmo envio”, desenvolveu.
“Esta admiração é um caminho de salvação”, acrescentou na homilia da celebração que presidiu com os novos cardeais, criados no consistório público de sábado.
O Colégio Cardinalício conta, desde sábado – dia do oitavo consistório do atual pontificado, para a criação de 20 cardeais – com 226 elementos, 132 dos quais eleitores num eventual Conclave.
Francisco pediu que Deus “mantenha sempre viva” essa admiração, porque os “liberta da tentação” de se sentirem “’à altura’, de nutrir a falsa segurança de que hoje, na realidade, é diferente”, a Igreja não é como no início.
“Hoje a Igreja é grande, é sólida, e nos situamos nos graus eminentes da sua hierarquia… Sim, há alguma verdade nisso, mas também há tanto engano, com que o Mentiroso tenta mundanizar os seguidores de Cristo e torná-los inofensivos”, salientou, alertando para o “mundanismo espiritual”.
O Papa começou a homilia a contextualizar que as leituras da celebração, próprias da liturgia desta terça-feira, apresentam “uma dupla admiração”, a de São Paulo “perante o desígnio de salvação de Deus”, e dos discípulos, “no encontro com Jesus ressuscitado, que os envia em missão”.
Neste sentido, convidou a entrarem “nestes dois territórios, onde sopra forte o vento do Espírito Santo”, para que possam recomeçar a partir desta celebração, e da convocação dos cardeais, “mais capazes de ‘anunciar as maravilhas do Senhor a todos os povos’”.
Francisco afirmou também que devem ser muito gratos ao Papa São Paulo VI, “que soube transmitir este amor pela Igreja”, um amor que é reconhecimento, “uma grata admiração pelo mistério da Igreja e pelo dom de ser admitido n’Ela, de envolver-se, participar, e ainda ser corresponsável por Ela”.