O secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Angel Gurría, defendeu que os salários só devem ser aumentados com a subida da produtividade e que, quando isso não acontece, os países perdem competitividade.
“No médio e longo prazo, a única forma sustentável de aumentar salários é fazê-lo em função da produtividade. Sem aumentos na produtividade, não podemos aumentar salários, porque há perda de competitividade”, disse Angel Gurría em entrevista à agência Lusa, à margem do Fórum Global para a Produtividade da OCDE, que decorreu entre quinta e sexta-feira em Lisboa.
Ainda assim, o líder da organização sediada em Paris admitiu que “às vezes é necessário algum tipo de medida compensatória depois de um período de salários baixos”, mas, após isso, o aumento salarial deve ser actualizado em linha com a produtividade.
O problema, para Angel Gurría, é o fraco crescimento da produtividade, que atinge não só Portugal, mas todos os países da OCDE e várias economias emergentes.
“E os elementos [que o justificam] são comuns em todos estes países, incluindo Portugal: Investimento, educação, enquadramento regulamentar e de concorrência e, claro, o acesso ao crédito”, enumerou.
O secretário-geral defendeu ainda que os Governos não devem ter medo de reverter medidas que estão a prejudicar a produtividade: “Se não funciona, mudas. É lógico e prático”, disse.
Questionado se concorda com as reversões que estão a ser tomadas pelo executivo liderado por António Costa, nomeadamente no mercado de trabalho, o líder da OCDE respondeu: “O Governo ainda é jovem. Tem as suas escolhas. Temos de ver exactamente quais é que são”.
Sobre o impacto na produtividade do regresso das 35 horas de trabalho semanal para os funcionários públicos, Gurría disse que “um número não faz magia”, dando diferentes exemplos europeus.
“Os países nórdicos estão agora a pensar em trabalhar menos horas com mais produtividade. Alcançaram um elemento de bem-estar tal que não precisam do rendimento e [por isso] podem trocá-lo por mais equilíbrio entre o trabalho e as suas vidas privadas”, exemplificou.
Num país onde os salários são mais baixos, como é o caso de Portugal, disse o secretário-geral da OCDE, “é preciso trabalhar mais horas para ser mais bem pago”.