As metas climáticas das empresas portuguesas permitem limitar o aquecimento global a 2,6ºC, longe da meta de 1,5ºC do Acordo de Paris, segundo um estudo do CDP - Carbon Disclosure Project, divulgado esta terça-feira.
"Com base nas atuais metas de redução de emissões estabelecidas pelas empresas, nenhum país do G7 [Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido] tem um setor corporativo com probabilidade de descarbonizar rápido o suficiente para atingir a meta de 1,5°C", concluiu o CDP.
O estudo concluiu que, coletivamente, empresas dos países do G7 estão a caminho de 2,7°C de aquecimento global, e as empresas portuguesas têm metas que permitirão limitar o aquecimento global a 2,6°C.
Segundo o CDP, a "análise de metas climáticas corporativas sugere que o acordo de Paris é, atualmente, inatingível".
O relatório mostra que as empresas na Alemanha, Holanda e Itália têm as metas mais ambiciosas para reduzir as emissões, no G7, onde as emissões coletivas devem corresponder ao ritmo de descarbonização necessário para limitar o aquecimento global a 2,2°C.
Os dois países líderes são seguidos pela França (2,3°C), Reino Unido (2,6°C) e Estados Unidos (2,8°C), enquanto as empresas do Canadá são as que se saem pior no grupo dos sete países, com metas alinhadas com 3,1°C de aquecimento, em média.
"Com a aproximação da COP27, a lacuna entre o que é prometido pelos formuladores de políticas e a economia real é considerável", apontou o CDP.
"O mais importante fator de redução rápida de emissões é a definição de metas ambiciosas. Não é aceitável que nenhum país, muito menos as economias mais avançadas do mundo, tenha indústrias com tão pouca ambição coletiva", apontou, em comunicado, o diretor global de Mercados de Capitais do CDP, Laurent Babikian.
A análise baseia-se nas classificações de temperatura do CDP, que traduzem as metas de redução de emissões das empresas.
As classificações, que incluem todas as emissões nas cadeias de valor da empresa (Escopo 1-3), refletem o provável aumento da temperatura, caso as emissões globais se reduzam à velocidade das metas das empresas.
Ainda assim, a análise mostra um desempenho superior claro e consistente das empresas europeias em relação às norte-americanas e asiáticas, em todos os setores.
O setor de produção de energia europeu, por exemplo, está à frente de todos os outros, com metas que limitam o aquecimento global a 1,9°C (2,1°C para empresas norte-americanas e 3°C para empresas asiáticas).
No geral, o setor empresarial europeu melhorou de 2,7°C em 2020 para 2,4°C em 2022, explicado em parte por um rápido aumento das empresas com metas baseadas na ciência, em 2021.
No seu conjunto, as empresas com metas baseadas na ciência reduziram as emissões em 25% desde 2015.
O acordo climático de Paris visa um limite de 1,5°C para o aquecimento global - uma meta que o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) diz que deve ser cumprida para evitar impactos ainda mais catastróficos das mudanças climáticas.
A diferença entre 1,5°C e 2°C, por exemplo, inclui um aumento de 10 vezes na probabilidade de verões árticos sem gelo, um aumento de 2,6 vezes no número de pessoas expostas a eventos de calor extremo e duas vezes o impacto na pesca marinha e nas culturas rendimentos, de acordo com o IPCC.