Julian Assange regressou esta segunda-feira ao banco dos réus num tribunal em Londres para retomar a batalha contra o pedido de extradição dos EUA, onde enfrenta acusações criminais de espionagem por causa da atividade da WIkiLeaks, organização que ajudou a fundar. O julgamento estava suspenso desde o final de fevereiro por causa da pandemia de Covid-19.
As autoridades norte-americanas acusam o australiano, agora com 49 anos, de conspirar para aceder aos sistemas informáticos do Governo dos EUA e de violar a lei de espionagem, após a divulgação de centenas de milhares de documentos militares secretos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, entre 2010 e 2011.
Visto pelos seus apoiantes como o rosto da liberdade de expressão e o homem que expôs os abusos de poder dos EUA ao resto do mundo, reúne vários críticos, que entre outros citam o facto de ele ter divulgado documentos sem assegurar a proteção da identidade das fontes dos serviços secretos norte-americanos.
Em 2016, Assange tornou-se alvo de novas críticas após a WikiLeaks divulgar documentos roubados dos sistemas informáticos da Comissão Nacional de Democrata, com repercussões para a candidatura de Hillary Clinton contra Donald Trump.
O australiano rejeita as acusações dos investigadores norte-americanos, que dizem que a WikiLeaks obteve estes documentos de piratas informáticos russos, embora este caso não esteja ligado ao julgamento atualmente em curso.
Assange ganhou fama internacional em 2010, quando a WikiLeaks divulgou um vídeo do Exército norte-americano de um ataque a Bagdade em 2007, no qual se vê militares norte-americanos em helicópteros Apache a matarem uma dúzia de pessoas como se fosse um jogo de computador. Entre as vítimas estavam dois jornalistas da Reuters.
Pouco depois, o site deu início à publicação de registos militares e comunicações diplomáticas confidenciais.
"Acusações são políticas", diz Defesa
No início das audiências de extradição, em fevereiro, os advogados de Assange alegaram que o australiano não deve ser extraditado para os EUA porque nunca lhe será garantido um "julgamento seguro" no país, face ao que dizem ser "acusações politicamente motivadas".
Para além disso, a equipa do cofundador da WikiLeaks também diz que há o elevado risco de o seu cliente cometer sucídio se for enviado para os EUA, onde enfrenta uma pena cumulativa de prisão que pode chegar aos 175 anos.
A perseguição de Assange, referem os advogados em documentos judiciais, faz parte da estratégia de "declaração de guerra a denunciantes e jornalistas" seguida pelo Presidente norte-americano, Donald Trump. "[Assange] é um símbolo óbvio de tudo o que Trump condena, por ter chamado a atenção de todo o mundo para os crimes de guerra cometidos pelos EUA", alegam.
O percurso de Assange pela Justiça no Reino Unido começou em 2010, quando foi a tribuna lutar contra uma ordem de extradição para a Suécia, onde enfrentava acusações de violência sexual, entretanto anuladas. Em junho de 2012, na iminência de ser extraditado, procurou asilo político na embaixada do Equador.
Assange viveu na representação diplomática equatoriana em Londres durante sete anos. Este ano, a sua parceira, Stella Moris, anunciou que, nesse período, Assange foi pai duas vezes.
Após o Equador revogar o seu estatuto de exilado político, foi retirado à força da embaixada em abril de 2019, para cumprir uma curta pena de prisão por ter violado os termos da liberdade condicional. A pedido dos EUA, vai continuar preso até ao final do julgamento de extradição.