“Esta direção é acarinhada e apoiada.” É assim que Inês Sousa Real, líder do PAN, resume o relatório de auscultação interna que, segundo a própria, vai ser entregue neste mês de outubro aos filiados no partido.
Este documento estava prometido há oito meses, desde as eleições legislativas de 2022, altura em que o PAN perdeu três dos quatro deputados que tinha na Assembleia da República. Nos meses que se seguiram, foram várias as figuras do PAN que constituíram oposição interna à atual direção, com algumas a pedirem a antecipação do Congresso Eletivo.
A tentativa de derrube de Inês Sousa Real não foi concedida, e a direção disse que iria fazer uma auscultação das bases do partido. Esse processo já estará terminado, segundo adianta a porta-voz do partido à Renascença.
Em entrevista, a atual líder do Partido Pessoas Animais e Natureza não adianta exatamente o conteúdo e as conclusões deste relatório, mas garante que o partido está com ela.
Diz que “não faz qualquer tipo de sentido” o PAN perder-se em “guerras internas” e reitera a confiança que o partido tem em si. Questionada pela Renascença, admite que será recandidata quando o partido voltar a ter eleições internas, o que deve acontecer em junho de 2023.
O PAN perdeu três dos quatro deputados que tinha na AR. Depois dos resultados, a oposição interna pediu consequências. A direção do partido remeteu para um relatório de auscultação interna. Passaram oito meses. Onde é que está esse relatório?
Nós já concluímos essas auscultações internas. Elas serão divulgadas, quer internamente, quer externamente. Por coincidência, ainda esta semana a nossa Comissão Política Nacional esteve reunida e analisou esse relatório.
Não me cabe ultrapassar a direção e enunciar esse mesmo resultado. Mas aquilo que posso desde já transmitir é que o partido está com esta direção, está comprometido com aquilo que é o papel do PAN na sociedade e na Assembleia da República.
Nós temos, de facto, um combate que é um combate muito relevante: pelos direitos humanos, pela proteção animal e também pelo combate à crise climática. E, portanto, os portugueses sabem que podem contar connosco para esta demanda. É o nosso foco e o objetivo é esse.
Internamente pode haver, evidentemente, oposição. Faz parte das democracias, faz parte da pluralidade democrática, que deve existir num partido.
Mas nós fomos democraticamente eleitos, quer para a direção do partido, quer para a Assembleia da República. Portanto, estamos a cumprir e a honrar o nosso mandato.
E a oposição interna e os filiados de base não questionam os últimos resultados eleitorais do partido?
As auscultações foram amplamente participadas, não só através de forma presencial, como também de forma online.
A direção foi a vários locais do país ouvir os filiados, um processo que nunca tinha ocorrido internamente no PAN em dez anos da sua existência. As pessoas sabem também aquilo que foi transmitido nas reuniões, sabem a posição da generalidade dos filiados.
Basta ver a adesão que temos tido, não só nos nossos eventos, o trabalho que tem sido feito pelas nossas estruturas, para perceber que estamos é todos comprometidos com aquilo para o qual fomos eleitos e mandatados, que é tentar tornar este mundo um bocadinho melhor, ao invés de nos perdermos em guerras internas. Não faria qualquer tipo de sentido.
Porque é que demoraram quase oito meses a elaborar o relatório?
Neste caso, não foi a elaborar. Nós fomos aos vários concelhos e localidades ouvir os filiados. Fizemo-lo de forma descentralizada e sempre com várias sugestões pelo país. Isso implicou várias deslocações.
Mas pelo meio tivemos um Orçamento do Estado, tivemos toda uma crise, toda uma guerra que despontou. Portanto, não fazia sentido que não fosse conjugado este processo de auscultação e com o aquilo a que o o PAN também tinha de dar resposta.
Durante o próprio verão tivemos os grandes incêndios no nosso país e o PAN esteve na primeira linha a apresentar iniciativas que procuraram dar respostas
Houve todo um trabalho político que teve de ser feito em simultâneo com a auscultação Aquilo que nos parece é que os filiados não só ficaram bastante satisfeitos com o processo de auscultação que foi feito.
Do ponto de vista democrático foi muito importante para que todas as pessoas tivessem oportunidade de ser ouvidas, o que num congresso representativo não aconteceria.
A elaboração do relatório não durou esses meses todos. O que levou foi este processo de auscultação.
Tem legitimidade formal para se manter na liderança do PAN? Depois da vaga de saídas, do resultado das autárquicas e do resultado das legislativas há alguns meses, continua a sentir que tem legitimidade política para se manter até ao próximo Congresso Eletivo?
Volto a dizer, não querendo enunciar aquilo que é o resultado do relatório, fica a sensação que o apoio existe. E que esta direção é acarinhada e apoiada, inclusive o mandato na Assembleia da República.
Externamente, também, as pessoas têm acarinhado muito o PAN e têm mostrado solidariedade até com a perda do ponto de vista da representatividade.
Termos passado de um grupo parlamentar para uma deputada única, até fruto do contexto político que vivemos, em que houve um voto útil, para evitar que a direita e a extrema-direita pudessem chegar ao poder.
Aquilo que temos sentido é um forte apoio, quer interno quer externo, daquilo que tem sido o nosso trabalho.
Tendo em conta as conclusões preliminares desse relatório que ainda não foi divulgado, está em cima da mesa antecipar o congresso eletivo do PAN?
Isso será comunicado internamente. Não cabe estar a ultrapassar a a comunicação da direção, mas aquilo que posso transmitir é: nós fomos eleitos democraticamente, quer na Assembleia da República, quer para essa direção, e honraremos o nosso mandato até ao fim.
Estamos comprometidos com o nosso trabalho. O que as pessoas querem ouvir do PAN é o que temos a dizer em termos de respostas políticas, não que os partidos se percam em tricas internas.
Seria ser mais do mesmo em política. Não nos parece que seja esse o caminho.
Independentemente da data. Está disponível para voltar a candidatar-se ao cargo de porta-voz do PAN no próximo Congresso Eletivo?
Estou. Estou disponível para continuar a lutar, não só por aquilo que são os meus ideiais e valores, como os do partido que represento e do qual há uma década faço parte.
Acho que ninguém se deve perpetuar no poder. No dia em que não faça mais sentido estar na direção e ligada a este projeto, sairei naturalmente, quer da direção, quer da Assembleia da República. Mas ainda não é esse o momento.