A previsão do Bando de Portugal (BdP) é de que a economia vai entrar em recessão antecipada e há dois cenários possíveis - um “relativamente limitado”, em que a contração é de 3,7%; outro considerado adverso, com um impacto “mais significativo devido à paralisação mais prolongada da atividade económica em vários países”, onde a queda do PIB chega aos 5,7%.
São dados avançados no Boletim Económico de março, divulgado esta quinta feira, que já antecipa o impacto da covid-19 na economia.
O Banco de Portugal avisa que, a concretizar-se o pior cenário, a queda será maior do que no pior ano da última crise – em 2012, quando o PIB caiu 4%.
Na impossibilidade de apresentar um cenário mais provável, dada a “incerteza exacerbada e a complexidade” da situação, o Banco Central apresenta dois cenários, que procuram ter em conta “o potencial impacto das políticas adotadas pelas autoridades nacionais e europeias em face do choque”. Mas, “ambos os cenários contemplam uma recessão da economia portuguesa em 2020” e apontam para um pico no segundo trimestre, seguido de uma recuperação no segundo semestre.
Segundo a instituição liderada por Carlos Costa, “as perspetivas para a economia portuguesa deterioraram-se abrupta e significativamente em resultado do impacto da pandemia Covid-19”, e pode arrastar-se, esta pandemia “corresponde a um choque económico adverso com efeitos muito significativos e potencialmente prolongados no tempo em termos do bem-estar dos cidadãos e da atividade das empresas”.
Taxa de desemprego pode chegar aos 11,7%
No melhor cenário, com uma recessão de 3,7%, a taxa de desemprego passa dos actuais 6% para 10,1% e o emprego cai 3,5%.
Tudo depende da “configuração e magnitude das medidas de política que possam ser implementadas de imediato”, diz do Banco de Portugal.
No pior cenário, o desemprego pode chegar aos 11,7%, um cenário que admite “maior destruição de capital e perda de emprego” assim como “maior incerteza e níveis de turbulência mais significativos nos mercados financeiros”.
Famílias vão cortar nas despesas
O Banco de Portugal espera uma queda do consumo privado na ordem dos 2,8% este ano, o que vai aumentar as poupança das famílias, num cenário de “grande incerteza” e “ligeira queda do rendimento disponível real”.
As medidas já anunciadas pelo governo travam alguma perda, antecipa-se “um aumento significativo das transferências públicas para as famílias em 2020“, o que deverá aumentar o consumo público em 2,1%.
No pior cenário, o consumo privado cai 4,8% este ano. “As famílias reduzem mais significativamente as despesas de consumo num cenário de maior incerteza, caracterizado também por uma maior queda do emprego, níveis mais elevados da taxa de desemprego e condições financeiras mais desfavoráveis”.
O Banco de Portugal avisa que uma “elevada” percentagem das famílias portuguesas está perto ou abaixo do limiar de pobreza, ou seja, têm uma “reduzida margem de absorção do choque” no seu rendimento.
Empresas sem dinheiro, exportações podem cair 19%
A maior descida é a do investimento das empresas, mesmo com as anunciadas linhas de crédito, o boletim económico aponta para uma queda de 10,8%, “devido à forte redução do investimento empresarial e, em menor magnitude, do investimento residencial”. Mas a queda pode ser ainda maior, com uma recessão de 5,7%, o investimento levará um corte de 14,9%.
Por arrasto, a recessão será também visível nas vendas ao exterior. As exportações vão cair de forma abupta (-12,1%), tal como as importações (-11,9%). Isto no melhor cenário, na versão pessimista, as exportações podem cair 19,1% este ano, e as importações 18,7%.
Esta é uma crise que afecta sobretudo a mobilidade e vai ser visível nos números do turismo e transportes, que “deverão registar uma queda acentuada”. No entanto, a descida do preço do petróleo deverá manter as contas externas positivas.
Esta crise traz ainda desafios acrescidos ao nosso tecido empresarial, “dominado por empresas de pequena dimensão e com situação financeira relativamente frágil”.
Preços mantêm-se baixos
Uma boa notícia para as famílias, não tão boa para a economia. Neste boletim, o banco central assume que “prevalece algum efeito descendente sobre os preços”, que mantem a taxa de inflação “em níveis baixos ao longo de todo o horizonte de projeção: 0,2% em 2020, 0,7% em 2021 e 1,1% no último ano do horizonte”.
No cenário adverso, haverá deflação este ano. “A taxa de inflação permanece em níveis ainda mais baixos ao longo de todo o período, prevendo-se que se situe em -0,1% este ano, 0,5% em 2021 e 0,7% em 2022”, diz o boletim.