Uma semana depois de os deputados terem escutado a médica Luisa Pinto falar da desorganização dos serviços e da falta de segurança em que são realizados os partos no Hospital de Santa Maria, a comissão parlamentar de Saúde ouviu esta quarta-feira de manhã o conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte garantir que isso não é verdade.
O diretor interino do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Santa Maria, Alexandre Valentim Lourenço, disse aos deputados que os médicos que se demitiram nos últimos meses o fizeram porque foram para o privado e apela ao Governo para garantir que estes especialistas não ficam apenas dois anos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Quando me comunicaram individualmente, no meu gabinete, em lágrimas, alguns a dizer que gostaria muito de continuar, mas que a situação que têm no sistema que lhes paga 1.600 euros líquidos por mês, e nos últimos 10 anos foram muitos os que saíram para o privado, que lhes paga seis vezes mais e às quatro da tarde estão em casa”, refere Alexandre Valentim Lourenço.
“É totalmente difícil concorrer com os privados, porque nós fazemos um trabalho hercúleo, mas precisamos também da ajuda dos senhores deputados e que o Governo da nação preste condições diferentes para que estes excelentes profissionais queiram permanecer e não fiquem apenas dois ou três anos no SNS.”
Questionado pelos deputados sobre as condições de segurança e o número de médicos especialistas por equipa, o médico obstetra disse que é preciso alterar a organização das equipas e deu como exemplo o que já sucede na Dinamarca e na Suécia, que trabalham com apenas um especialista.
“Eu tenho colegas na Suécia e na Dinamarca e ainda ontem estive a falar com uma colega portuguesa que está há 15 anos na Dinamarca e, com três mil partos por ano, ela era a única especialista com interno a prestar urgência e nós aqui exigimos cinco especialistas para fazer os partos", explica Valentim Lourenço.
"É preciso organizar o trabalho com outras profissões, com enfermeiros capacitados que prestam uma excelente qualidade. Eu tenho internos do terceiro ano sozinhos nos hospitais da Suécia, com especialistas em casa.”
Sobre as acusações que foram feitas pela médica Luisa Pinto, que se demitiu no mês de julho, o atual diretor interino do serviço explicou que, apesar das saídas, o serviço de Obstetrícia continuou a funcionar, até porque recorrem a médicos com 60 anos de idade para fazer as urgências.
“E não foram os sete médicos que apresentaram demissão, mas foram os 25 médicos que se mantêm a trabalhar e que tiveram de duplicar as suas horas extraordinárias, cancelar algumas férias, e recuperar alguns dos médicos que já não faziam urgência por terem mais de 60 anos e que voltaram a fazer urgência. Foi só dessa forma que nós conseguimos, com grandes dificuldades, manter as equipas a funcionar; com o hospital aberto durante o mês de julho e integrar as equipas de São Francisco Xavier durante o mês de agosto, mantendo todos os parâmetros de segurança nos partos”, garantiu Alexandre Valentim Lourenço.
Nesta audição no Parlamento, a presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte garantiu ainda que as obras do novo bloco de partos começaram na data prevista, contrariando a afirmação da médica Luísa Pinto na semana passada ouvida pelos deputados.
“Durante agosto, encerramos as instalações para esvaziar o espaço e desinstalar os equipamentos clínicos. Em setembro, tivemos o visto prévio do Tribunal de Contas que permitiu concluir o processo de adjudicação com a empresa que vai construir um novo edifício, e assim iniciar as demolições interiores nas instalações já existentes. No mês de outubro, a empresa iniciou a preparação de estaleiro para arranque das obras ainda durante este mês, que estão neste momento a ser realizadas”, garantiu Ana Paula Martins.