Cerca de 500 agricultores do distrito de Vila Real vão juntar-se, esta manhã, na rotunda do quartel, em Vila Real, e, com uma frente de mais de 250 tratores e máquinas agrícolas, vão percorrer as ruas da cidade até à Camara Municipal, onde se propõem entregar um caderno de reivindicações.
À Renascença, Daniel Serralheiro, da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), assume tratar-se de um grito de revolta porque está-se "a chegar a uma altura mesmo de corda ao pescoço”.
“Os custos que temos com a produção não chega para os custos de venda, ou seja, nós gastamos mais em produzir do que aquilo que vamos lucrar na venda. Estamos a chegar a um ponto que estamos a pagar para trabalhar. Estamos a pagar para poder produzir”, diz.
Os mesmos preços há mais de 30 anos
Segundo este dirigente da CNA, os preços mantêm-se desde 1986. "Um quilo de vitela era vendido a cinco euros e hoje, passados 30 e tal anos, um quilo de vitela ainda é vendido a cinco euros o quilo”."
O protesto visa, por isso, defender o rendimento dos agricultores, mas também a lei dos baldios.
Segundo Daniel Serralheiro, o Governo tem efetuado “cortes nas ajudas da área do primeiro pilar, que é a área que está disponível para o pastoreio nos baldios, a área que faz com que seja possível existirem e sobreviverem pequenas explorações no Norte, uma região de minifúndio”.
“Sem esta ajuda da área do primeiro pilar, da área de pastoreio, é impossível, para os agricultores do Interior, manterem as suas explorações”, assinala, explicando que o “IFAP [Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas] faz os pagamentos à área e não à produção”.
Os agricultores queixam-se que “existe uma legislação sobre a lei dos baldios e ela não é cumprida” e reivindicam “uma PAC justa, com ajudas só para quem produz”.
“Não estamos a ser ouvidos”
“Queremos cumprir o estatuto da agricultura familiar, ele já aí está, mas está em evolução de cruzeiro. Queremos, mais uma vez, a indemnização aos agricultores pelos prejuízos causados pelos animais selvagens”, adianta Daniel Serralheiro.
Os homens da terra entendem que “o ICNF, o Ministério do Ambiente, tem que assumir responsabilidades”, porque “o lobo, o javali, causa prejuízos enormes nas explorações e andamos há muito tempo já a reivindicar essas ajudas, mas não estamos a ser ouvidos”.
Por fim, Daniel Serralheiro diz que os agricultores vão exigir “o direito ao acesso à terra e aos recursos naturais e um ambiente equilibrado para poderem produzir”, lamentando que “o Governo diga que quer meter a gente no interior”, quando, com “este tipo de medidas, o que faz é tirar cada vez mais a gente do interior”.