“As pessoas que nos dedicamos à arte somos um pouco idealistas” reconhece a diretora da ARCOlisboa. Maribel López mostra-se satisfeita por conseguir na sexta edição da Feira de Arte Contemporânea de Lisboa juntar mais 21 galerias. Ao todo, a feira que abre esta quinta-feira para profissionais e a partir de sexta-feira para o público geral, conta com 83 galerias de 23 países.
“Esta edição esperamos que seja muito especial. É a sexta edição física, porque fizemos duas digitais durante a pandemia. Nesta edição a feira cresce em número de galerias. É algo que há muito aguardávamos”, indica a espanhola que está à frente da feira que decorre na Cordoaria Nacional, em Lisboa até domingo.
Em entrevista à Renascença, Maribel López refere que há “muitas galerias novas” e que esse crescimento se deve, no seu entender ao “desejo das galerias, dos colecionadores locais e internacionais, mas também do público com o interesse pela ARCOlisboa”.
A entrada para jovens até aos 25 anos é gratuita no sábado a partir das 15h. Maribel López quer assim apostar em captar novos públicos, até porque diz, depois da pandemia aumentou o interesse pela arte.
“Acho que depois da pandemia, demo-nos conta da importância da arte e da cultura para a nossa saúde física e emocional. Creio que se gerou um interesse maior sobre a arte. Acho que tem a ver com essa necessidade humana de nos ligarmos mais com a arte e isso fez com que haja novas galerias jovens, mais pessoas que decidiram dedicar a sua vida à arte e colecionadores que estão a começar, e outros que compram mais do que antes devido a esse impulso”, explica a responsável.
Questionada sobre a atual conjuntura económica e os desafios que pode levantar ao mercado da arte e às expetativas de vendas no evento de Lisboa, Maribel López reconhece que “estamos a viver um momento difícil”, contudo a diretora da ARCOlisboa que recorda a crise de 2010 e destaca que “os amantes de arte colocam essa necessidade num lugar muito especial.”
Maribel López que destaca o facto de Lisboa receber durante a ARCO colecionadores de vários países diz: “Comprar arte é um compromisso e uma maneira de apoiar uma sociedade que algumas pessoas assumem como sua responsabilidade. Também é verdade que a ARCOlisboa tem uma particularidade muito especial, porque pode-se comprar arte a começar num livro e acabar na obra de um artista consagrado”.
A diretora acrescente, no entanto, que não quer “menosprezar a questão económica”, e reconhece que comprar arte exige “um grande esforço”, mas considera que o certame deste ano tem “uma grande oferta positiva para animar o mercado”.
Com boas expetativas quanto às vendas deste ano, também pelo trabalho que os galeristas fazem ao longo do ano, de proximidade com os colecionadores, Maribel López fala ainda sobre os jovens artistas. Questionada sobre a forma como esses novos criadores trabalham o digital e a inteligência artificial, a diretora refere que “os artistas têm um radar mais ativo do que o resto da sociedade”.
Para Maribel López os artistas que agora entram no mercado já estão a pensar “como usar de forma criativa” ferramentas como a inteligência artificial. “Acho que há riscos com estes sistemas tecnológicos, mas a arte dá-te a segurança de que está sempre à frente do tempo”, explica a curadora que fala em “jogos criativos muito interessantes”.
“A cena artística portuguesa é interessantíssima”
Organizada pela IFEMA Madrid e pela Câmara Municipal de Lisboa, a ARCOlisboa mostra o que de mais recente se faz na cena artística portuguesa. 30% das galerias presentes, ou seja, um total de 25 são portuguesas. O resto da feira conta com 61 galerias provenientes sobretudo da Europa, mas também algumas presenças africanas, nomeadamente de Angola, Marrocos, Moçambique e África do Sul.
Em entrevista à Renascença, a diretora da ARCOlisboa, lembra que “a qualidade dos artistas, das galerias e o empenho dos colecionadores que está na génese da feira” e que fez com que a marca espanhola das feiras de arte quisesse abrir também em Lisboa há seis anos.
“Ao longo dos anos vemos como a cena artística foi crescendo. Há 5 ou 6 galerias novas que vão estar na feira, na seção Opening”, refere López. Para a responsável da ARCOlisboa há “um constante crescimento e isso não seria possível se os artistas não tivessem a grande qualidade que têm”.
“As galerias não abrem onde há maus artistas, por muito bons colecionadores que haja”, sublinha Maribel López que fala em “paixão” pela cena artística portuguesa que considera “interessantíssima”, porque “todos os anos há artistas novas e galerias novas”.