Os dias enrolam-se em audições dos partidos por parte do presidente da República, intervenções de líderes e especulações sobre quem serão os escolhidos pela AD para formar governo. Montenegro permanece num silêncio inabalável desde que venceu as eleições de 10 de março.
Na direção do PSD é recusado este ambiente de mercearia, com toda a sorte de nomes ministeriáveis e foi mesmo imposta uma espécie de lei da rolha até à indigitação, que deverá acontecer mal estejam apurados os resultados na totalidade, estando, neste momento, por atribuir os quatro mandatos da emigração.
À Renascença, fonte da direção do PSD diz que "não faz sentido nenhum" que Luís Montenegro leve já nomes de ministros/as à audiência de quarta-feira com o Presidente da República, antes mesmo de ser indigitado.
"Isso era descredibilizar-se e isso não pode acontecer nesta altura", admite a mesma fonte que adianta que "só depois ser indigitado" é que o líder do PSD "fará os convites" para o elenco do Governo.
É, de resto, a resposta que dão à Renascença diversos nomes ministeriáveis do universo do PSD quando se lhes pergunta se chegou algum convite do líder social-democrata: "Luís Montenegro só fará convites depois de indigitado".
É também dado como "óbvio" que "há pessoas" que "estão a aconselhar" Luís Montenegro e "a indicar nomes" de eventuais ministeriáveis. Figuras como Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite ou Marques Mendes são ouvidos pelo líder do PSD, que, no entanto, se fechou em copas desde a noite eleitoral de há uma semana.
Aquilo que Luís Montenegro irá dizer ao Presidente da República nunca será a lista de nomes a convocar para o Governo, garante-se na direção do partido, e o que Montenegro fará com Marcelo Rebelo de Sousa é uma "análise dos resultados" e ouvir "conselhos", assume uma fonte social-democrata.
Quanto às garantias de estabilidade de um governo formado pela AD, também essas só poderão ser dadas após a indigitação de Luís Montenegro e nunca antes. E, sobretudo, com total conhecimento dos resultados da emigração.
Na direção social-democrata também se desvaloriza que o Presidente da República tenha começado a ouvir os partidos ainda antes de serem conhecidos os resultados da emigração. À Renascença é dito por um dirigente que os poderes presidenciais permitem a Marcelo chamar os partidos quando quiser.
Neste caso, o Presidente da República chamou os partidos antes da oficialização dos resultados finais das eleições e a conta-gotas, mas "se quiser voltar a chamar depois, não há razão nenhuma para não o fazer". Por exemplo, na quinta e na sexta-feira, resume a mesma fonte, "se os resultados da emigração alterarem muito".
Na cúpula social-democrata assume-se também que "não é de espantar" que quer Montenegro, mas também Pedro Nuno Santos "já tenham falado antecipadamente" com o Presidente da República, que poderá não querer abordar alguns temas com as delegações do PS e da AD, mas a sós com os líderes dos dois maiores partidos.
Cotrim, Nuno Melo e Miranda Sarmento são ministeriáveis
Apesar do silêncio sepulcral de Montenegro, os corredores social-democratas são um organismo vivo e são vários os nomes que circulam como potenciais ministros. No passado domingo, Luís Marques Mendes apontou para a possibilidade de haver membros da Iniciativa Liberal a entrar para o Governo. Fonte social-democrata diz à Renascença que só há três nomes liberais com "peso político suficiente": Rui Rocha, Carlos Guimarães Pinto e João Cotrim de Figueiredo.
Ainda assim, a mesma fonte admite que tudo não passa de conversas de corredor, uma vez que o líder do PSD se mantém num "processo blindado" e que é possível que "nem o núcleo duro" esteja a par de tudo.
Dado como praticamente certa é a inclusão de Nuno Melo, presidente do CDS, no elenco governativo. O ministério da Defesa tem sido o destino mais referido, e há quem o coloque no fato de futuro ministro da Administração Interna, mas fonte próxima do líder centrista diverge e coloca o dedo em riste em direção ao ministério da Agricultura.
A pasta da Agricultura pode ser a solução para o líder centrista, e a mesma fonte explica à Renascença que Nuno Melo tem trabalhado esta pasta em Bruxelas, como eurodeputado, e, a concretizar-se, até teria a ajuda de Luís Mira, secretário-geral da CAP (Confederação dos Agricultores Portugueses), um independente com ligações ao CDS-PP.
Do lado dos militantes do PSD que brilham e podem chamar a atenção de Montenegro estão, entre outros, Pedro Reis, que chegou a liderar a AICEP, o vice-presidente Paulo Rangel e até outros "menos prováveis, fora do spotlight" que acumulam experiência governativa e podem vir a ser convidados: o antigo ministro da Economia Carlos Tavares, o atual presidente da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo (embora já se tenha colocado de fora dos ministeriáveis) e até o ex-ministro de Passos, Miguel Poiares Maduro.
No topo dos nomes mais consensuais está Joaquim Miranda Sarmento, até aqui líder parlamentar do PSD e que é visto como natural futuro ministro das Finanças escolhido por Luís Montenegro. "Ficaria surpreendido se não fosse, é um sonho antigo", descreve um dirigente social-democrata à Renascença.
No conjunto do puzzle que se mantém com mais perguntas do que respostas, sobra ainda uma das prateleiras de ouro da política: a presidência da Assembleia da República. Para suceder a Augusto Santos Silva, o ex-ministro e deputado eleito José Pedro Aguiar-Branco é aquele que tem as "melhores credenciais", refere fonte social-democrata à Renascença.
A única alternativa identificada é Teresa Morais, jurista, antiga deputada e que chegou a integrar o segundo (e curto) governo de Passos Coelho como ministra da Cultura, Igualdade e Cidadania.