É urgente o Amor que nos faz olhar na mesma direção e nos impele a não deixar ninguém para trás. O Amor que se faz serviço e dedicação aos outros, gera comunidade, promove fraternidade.
Somos “ Esteticamente superiores…” foi uma afirmação que ouvi por estes dias e confesso que dei por mim a perguntar-me quantas pessoas residentes em Portugal, e noutros países da Europa, na América, em África, na Ásia, na Oceania, se sentem esteticamente superiores?
E da minha mente não se desvanece a pergunta: O que significa ser esteticamente superior? O que significa ser esteticamente superior diante de um planeta tão diverso? Quem é que é considerado sem estética? E porquê?
Migram as pessoas e com elas, tudo aquilo que são: ideologia, religião, cultura, família, potencialidades, sonhos... Urge interrogarmo-nos como construir um mundo capaz de concretizar a igualdade declarada e firmada por tantos países, na Carta Universal dos Direitos Humanos:
Artigo 1
"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade"
Onde fica o Espírito de fraternidade quando se afirma convictamente, ou se aplaude, a ideia de superioridade entre cidadãos, povos, países?
Demoro-me nestas perguntas, a minha memória recua no tempo e no espaço pelos continentes europeu, africano, americano, asiático, em todos eles se comprovaram graves atentados à dignidade humana em nome de uma superioridade imposta. É urgente aprender com a história e não cometer as mesmas atrocidades de outrora.
É urgente recordar factos históricos e invocar os dias internacionais, que se baseiam na Carta das Nações Unidas, com o firme propósito de despertar a nossa humanidade.
Na esperança de interromper ciclos de violência e impedir que as barbaridades cometidas noutros tempos e noutras geografias não se repitam: já assinalamos o 8 de março, Dia Internacional da Mulher que encerra em si características que edificam a humanidade; é urgente aprender a paz levando a sério o 5 de março, Dia Internacional de Sensibilização para o Desarmamento e a Não-Proliferação de armas; como é urgente investir na amizade social, na construção de pontes, na resolução de conflitos internos e externos.
É urgente assinalar o 15 de março, Dia Internacional contra a Islamofobia; o 21 de março, Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial; o 24 de março tem como exemplo o Arcebispo Óscar Romero, em que assinalamos o Dia Internacional para o Direito à Verdade sobre Graves Violações dos Direitos Humanos e pela Dignidade das Vítimas; o 25 de março é o Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravatura e do Comércio Transatlântico de Escravos, e muitas outras evocações que também nos conduzem ao cuidado da nossa casa comum.
Se queremos abraçar o Espírito de fraternidade, é urgente combater a violência, e direcionarmos a agressividade que pulsa dentro de cada um de nós para construção da justiça social, promoção do desenvolvimento sem estigmatizar o nosso semelhante. Sem estigmatizar o próximo, a quem os cristãos chamam 'irmão', porque filhos e filhas do mesmo Pai-criador, porque filhos e filhas do pai na fé, Abraão. Os cristãos atualizam a sua fé quando se orientam por uma autoridade que advém da verdade e da vida, percorre o caminho da misericórdia e reclama justiça e paz para todos os seres humanos e para todos os povos.
É urgente instaurar um mundo novo onde todas as pessoas tenham lugar. É urgente assumir a nossa essência humana profundamente enraizada nas migrações, na liberdade tão essencial para sonhar e construir uma vida segura e próspera. Somos todos peregrinos de esperança num mundo diferente e buscamos sinais de humanidade nos cidadãos de boa vontade e em governantes verdadeiramente capazes de estar ao serviço da boa política, promotora do desenvolvimento da justiça e da coesão social.
*Eugénia Costa Quaresma é diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações