A tinta que escondeu as diferenças na coligação sobre a lei do aborto
28-02-2024 - 19:37
 • Manuela Pires

Luis Montenegro cancelou duas ações de campanha, um encontro num café em Almada e uma visita à Santa Casa da Misericórdia em Évora.

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O balde de tinta verde que um jovem ativista entornou na cabeça de Luís Montenegro à entrada para a BTL salvou o dia de campanha da Aliança Democrática. Depois das marcas que a passagem de Passos Coelho deixou na caravana, com os adversários a usarem a troika, o corte de pensões e a imigração como trunfo contra Luís Montenegro, na manhã de terça-feira uma outra polémica, desta vez com o parceiro de coligação, prometia dominar o quarto dia de campanha eleitoral.

Mas o balde de tinta temperou a manhã da campanha e Luís Montenegro, que já apresentou queixa contra o jovem ativista, e conseguiu a solidariedade de todos os lideres partidários.

“Pontaria não faltou ao jovem que me abordou. Tenho todo o respeito pelas pessoas que se manifestam pelas suas causas. Se a ideia era transmitir-me a preocupação sobre as questões climáticas, era mais fácil termos conversado, dialogado acerca disso. O nosso programa tem várias medidas sobre isso”, respondeu Luís Montenegro, que contrariava a primeira declaração de Nuno Melo. O parceiro de coligação considerou o ato “cobarde e idiota”.

“A mim não me causa um transtorno excessivo a não ser atrasar a agenda, vou ter de me ir limpar, porque isto não sai, não sei que material é este”, respondeu Montenegro que, hora e meia depois, na Costa da Caparica, ironizava dizendo que a ação não foi benéfica para o ambiente devido ao gasto de água e de energia. “Por mais tinta que me atirem, eu continuarei a ser o mesmo e a fazer o mesmo caminho”, garantiu Luís Montenegro.

O líder da AD teve ainda de gerir outro incidente, desta vez com o parceiro de coligação. O vice-presidente do CDS, Paulo Núncio, candidato a deputado por Lisboa nas listas da Aliança Democrática (AD), defendeu a realização de um novo referendo ao aborto durante um debate em Lisboa, promovido pela Federação Portuguesa pela Vida.

“Acho que a única forma de revertermos a liberalização da lei do aborto passa por um novo referendo”, declarou o antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. A notícia, que marcou a manhã das notícias na Renascença, saltou de imediato para a campanha. Nuno Melo explicou que Paulo Núncio falava em nome do CDS, um partido que não mudou de opinião sobre esta matéria, e argumentou que o tema não está no programa eleitoral da AD.

Nuno Melo fez estas declarações enquanto Luís Montenegro tentava limpar a tinta verde que lhe cobriu o cabelo, a cara e o pescoço.

Mas foi só depois de um longo banho, e à chegada à Costa da Caparica, que o líder do PSD admitia aos jornalistas que era bom falarem todos a uma só voz nesta campanha: "Cria aqui um pequeno momento polémico."

“Era melhor que não houvesse nenhum ruido, mas isso não revela desunião, apenas a liberdade de opinião que nós temos”, conclui o líder da AD.

"Esse assunto é um assunto que está absolutamente arrumado. Nós não vamos ter nenhuma intervenção nesse domínio na próxima legislatura. Vamos cumprir a lei e dar às mulheres todas as condições, de acordo com a lei, tomar a decisão de forma segura e planeada do ponto de vista da sua saúde”, garantiu Montenegro.

Com a polémica arrumada, a tinta verde continua a marcar a agenda, e a campanha da AD cancelou uma visita à Santa Casa da Misericórdia de Évora. O dia terminou com uma arruda e um comício na rua na cidade de Évora.