O que terá sido a pneumónica de 1918 sem a tecnologia que hoje temos ? A interrogação deixada no ar por Eduardo Marçal Grilo serve para subscrever o papel insubtituível das comunicações e da tecnologia na gestão social da actual crise pandémica. O antigo ministro da Educação debateu o impacto social e psicológico da pandemia com a psicóloga social Luisa Lima no programa "Da Capa à Contracapa" da Renascença.
"Estávamos todos muito preocupados [com a forma] como se passava para a sociedade digital. Agora não devemos ter preocupação nenhuma. As medidas de emergência que se estão a tomar, não todas, vão perdurar no tempo. Sempre assim foi. As coisas que se inventaram durante a guerra acabaram por ser grandes avanços para o resto da sociedade", salienta Marçal Grilo que acrescenta que o factor fundamental prende-se com a duração da pandemia que vai trazer "muitas alterações, talvez não tantas como possamos pensar".
O antigo administrador da Fundação Gulbenkian admite que a crise pandémica vai acentuar a desigualdade já existente entre pessoas, famílias, ricos e pobres.
Dando o exemplo da educação, o antigo ministro sublinha que o ensino à distância está testado há muito tempo, com aspetos negativos e positivos.
" A minha opinião é que vamos acelerar alguns aspectos da educação no tele-ensino. Se será a telescola do século XXI ? Pode ser, mas terá sempre que ser complementada com o ensino presencial. A educação é algo que liga às pessoas, desde o Platão que isto é verdade", sustenta o antigo governante que ocupou a pasta da Educação nos Governos de António Guterres.
O mesmo raciocínio deve ser aplicado à saúde, onde uma das chaves é a relação de confiança entre o médico e o paciente.
"A telemedicina também vai ter um impacto enorme. Mas o acto médico é uma coisa muito íntima, muito pessoal, muito própria, muito caracteristica da relação entre duas pessoas. É uma pessoa que tem confiança na outra e mete nas suas mãos a sua saúde. Que lhe diz o que pensa, o que sente, o que gostava de fazer, qual a dificuldade que tem. Estas coisas não se fazem muito pelas tecnologias, mas pelo contacto dos olhos com os olhos", exemplifica o actual membro do Conselho de Curadores da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Num testemunho mais pessoal, o convidado do "Da Capa à Contracapa" exalta a importância do contacto físico no plano familiar.
"Estou há quase três semanas em casa sozinho com a minha mulher e tenho imensa pena de não poder tocar nas minhas netas e nos meus netos. Aliás tenho dois em Itália, em Milão, imagine a nossa preocupação. Todos os dias ligamos-lhes pelo Whatsapp, conseguimos vê-los e conversar com eles através do Facetime", confessa o antigo ministro no "Da Capa à Contracapa" da Renascença, em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Pode ouvir este programa aos sábados, às 9h30, ou sempre que quiser na página do podcast no site da Renascença ou nas plataformas digitais habituais.