O alojamento local gera à maior parte dos seus proprietários menos de 20 mil euros por ano, mas representa para 39% deles mais de metade do orçamento familiar, conclui um estudo realizado pela NovaSBE apresentado esta terça-feira.
Na apresentação das conclusões finais do “Estudo de impacto do alojamento local em Portugal”, em Lisboa, o economista e investigador da Nova School of Business & Economics Pedro Brinca destacou que 46% dos alojamentos locais em Portugal geram menos de 20 mil euros por ano aos seus proprietários.
Simultaneamente, essa receita representa “mais de 60% do orçamento familiar” para 39% dos inquiridos no estudo, realizado a pedido da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP) e que se baseia em 1.820 respostas de proprietários e gestores.
Este é um dos dados que leva a equipa que realizou o estudo a concluir que o alojamento local “tem sido um motor da economia nacional”, gerando “valor acrescentado” quer na atividade económica, quer no emprego.
Quase 307 mil postos de trabalho
Com base em números de 2019, o estudo contabiliza que o setor seja responsável por 306.096 empregos diretos e indiretos (o que representa 6,18% do total nacional). Ou seja, cada alojamento local cria “quase quatro empregos”, especifica.
Já no que respeita ao Produto Interno Bruto (PIB), a contribuição das despesas de turistas que ficaram hospedados em alojamentos locais em 2019 chegou aos 9,9 mil milhões de euros (4,64% do PIB nacional) - isto baseado no "efeito multiplicador" em setores como a restauração e os transportes, por exemplo.
Tanto a contribuição para a atividade económica como para a criação de empregos têm vindo a crescer desde 2016, segundo o estudo.
O crescimento do turismo em Portugal – sublinha a ALEP no comunicado a propósito dos resultados do estudo – “só foi possível devido ao aparecimento do alojamento local, que já representa 40% das dormidas turísticas”.
A despesa feita pelos hóspedes em alojamentos locais “cresceu 57% entre 2016 e 2019”, acrescenta a associação.
Em junho, numa entrevista à Lusa, a ministra da Habitação, Marina Gonçalves, contabilizou 70 mil alojamentos locais em Portugal, mas, nessa mesma altura, o Registo Nacional de Alojamento Local (do Turismo de Portugal) indicava que existiam mais de 100 mil.
Logo no início da apresentação, Pedro Brinca - em nome dos autores do estudo, que incluem ainda João Bernardo Duarte e Joao Pedro Ferreira – sublinhou que não se focaram no “impacto” do alojamento local “no problema da habitação”.
Porém, o inquérito incluiu perguntas sobre o “impacto do Programa Mais Habitação” e suas “consequências”.
Proprietários "chumbam" pacote Mais Habitação
Sobre isto, mais de metade dos inquiridos antecipam que terão de “reduzir custos, encerrar a atividade ou cortar em futuros investimentos”.
A esmagadora maioria não vê "uma boa oportunidade para fazer investimentos" no pacote de medidas adotado pelo Governo (que, após o veto presidencial, aguarda pela discussão na Assembleia da República, prevendo-se que a maioria PS o aprove novamente).
Aliás, a grande maioria dos proprietários afasta a possibilidade de transferir os seus alojamentos locais para o arrendamento tradicional de longa duração ou para arrendamento a estudantes, excluindo também que passem a habitação permanente, pessoal ou familiar.
As opções mais plausíveis são arrendar a estrangeiros (média duração, de um a 12 meses), manter os alojamentos locais como casas de férias e segundas habitações ou mesmo vender os imóveis.
26% de AL em Lisboa e Porto
O estudo traça ainda o retrato do setor, demonstrando que quase dois terços dos proprietários de alojamentos locais (62%) são pessoas singulares e que a maioria tem apenas um alojamento local (e 80% têm menos de três, configurando pequenos proprietários).
Um terço dos proprietários são pessoas em idade ativa, em género relativamente equilibrado (53% homens e 47% mulheres) e a maioria têm ensino superior, indicam os resultados.
O estudo refere ainda que 62% dos proprietários “investiram na reabilitação” das habitações, sendo que “mais de 40%” dos imóveis “estavam devolutos ou em mau estado de conservação”.
Os autores da NovaSBE realçam ainda que o setor está subrepresentado nas estatísticas oficiais, onde só aparecem os alojamentos locais com capacidade superior a dez camas, deixando de fora 80%. Se se passar a incluir os de capacidade inferior a dez camas, o número “quase quadruplicará”, estimam.
O estudo conclui ainda que o alojamento local “é uma realidade em todo o território nacional”, com Lisboa e Porto a concentrarem “apenas” 26% (17% e 9%, respetivamente).