D. Carlos Azevedo lamenta a diminuição de leitores e alerta para o "perigo e ligeireza de nos entregarmos aos meios de informação e comunicação". O bispo português falava na sessão de apresentação da obra editada pelas Paulinas, na Igreja da Lapa, no Porto.
“E como diz Umberto Galimberti, o Homo Sapiens capaz de descodificar sinais e elaborar conceitos abstratos está a ser suplantado pelo Homo Videns, que não possui conteúdo, mas apenas é consumidor de imagens com enorme pobreza”, sublinhou.
O livro inclui temas como a simbologia das pedras preciosas na Bíblia ou a imagem do Santo Cristo, em São Miguel, Açores, como "uma tradução da iconografia do Ecce Homo, num contexto de sensibilidade mística que a escola franciscana alimentou desde os séculos XIV e XV.
D. Carlos Azevedo justifica esta sua obra como “um serviço às comunidades e à sociedade culturalmente atenta".
O delegado do Comité Pontifício para as Ciências Histórias diz que “estas obras resultam de uma vida retirada, pautada pelo silêncio do estudo, pelo trabalho escondido e apurado da investigação”, e sublinha que deve ser “entendido como serviço às comunidades cristãs e à sociedade culturalmente atenta”.
O prelado adianta que “com todos os limites” da sua personalidade, tenta “contribuir para melhor conhecimento do mundo simbólico que nos unifica e na arte se exprime de modo sublinhe”.
“Simbólico contrário de diabólico”. Bispo garante não “entrar em jogos de poder”
“Convicto de que o contrário de simbólico é diabólico espero que estes textos nos congreguem para o bem, para a verdade, para a beleza”, reforçou.
O bispo entende “o estudo do pensamento simbólico como uma base fundamental e verdadeiramente autêntica da psique humana” e garante sentir-se bem “por não entrar em jogos de poder tantas vezes por corredores diabólicos”.
D. Carlos Azevedo admite que “perante uma sociedade mundial atingida por uma guerra, a sofrer um modelo económico em hecatombe, e uma Igreja debilitada”; apresentar “estes simples trabalhos que não se debruçam sobre temas importantes, nem propõem vias de espiritualidade contemporizadora” talvez “pareça um despropósito”.
Na Igreja da Lapa, a obra foi apresentada pelo professor José Manuel Tedim, que falou da importância de não olharmos para a arte "apenas do ponto de vista formal". “É importante olharmos para arte enquanto simbólica, enquanto portadora de uma mensagem”, referiu. José Manuel Tedim diz ser necessário “olhar para a obra de arte enquanto mensagem”.
Depois, o professor da Universidade Portucalense destacou o facto de D. Carlos Azevedo não se ter esquecido de “abordar questões contemporâneas” na sua obra. “Não se ficou pelos estudos das iconografias dos Ecce Homo, dos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola. Foi muito mais longe e deixou-nos uma interpretação muito interessante num pequeno texto sobre a celebre tapeçaria do Altar Mor da Igreja de Santo Ovídio, em Vila Nova de Gaia; obra do nosso grande arquiteto, e artista e sonhador que era Fernando Lanhas”, destacou.