O presidente recém-eleito da Argentina Javier Milei adiantou esta segunda-feira que a sua equipa está a trabalhar "com as linhas de orientação" do Fundo Monetário Internacional, com quem o país tem uma dívida de cerca de 42.000 milhões de euros.
"As nossas linhas de trabalho estão de acordo com as linhas do Fundo", frisou Milei em entrevista à rádio Mitre, após a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, ter dado os parabéns ao presidente eleito através das redes sociais e ter manifestado vontade de trabalhar "em estreita colaboração" para desenvolver um plano que "garanta a estabilidade macroeconómica" do país.
A Argentina selou um acordo com o FMI em 2022 para refinanciar a dívida de 45 mil milhões de dólares (cerca de 41.000 milhões de euros) que o país sul-americano tinha contraído em 2018 e que, com juros acumulados, ronda agora os 46 mil milhões (cerca de 42.000 milhões de euros).
O programa de financiamento contempla o cumprimento de metas trimestrais -- deficit primário, reservas internacionais e emissão monetária para financiar o Tesouro -- que a Argentina está a caminho de não cumprir no final deste ano.
"O governo está a abandonar o acordo porque não cumpriu a meta fiscal", lembrou Milei, já que até ao final de 2023 o défice primário estava previsto para 1,9% do PIB e o Governo de Alberto Fernández vai deixá-lo em 2,9%, de acordo com o novo Presidente.
Milei lembrou ainda que a Argentina se comprometeu a não utilizar o Banco Central como mecanismo de financiamento e acabou financiando o equivalente a 6% do PIB "direta e indiretamente" através da entidade monetária.
Considerado o programa de ajustamento do FMI como 'morto', o país deve corrigir o seu rumo "o mais rapidamente possível", começando "com uma reforma do Estado, pondo as contas públicas em ordem muito rapidamente".
"O ajustamento deve ser feito, inexoravelmente, a grande diferença é que 'a casta' fez com que as pessoas pagassem por isso, e nós faremos com que 'a casta' e os seus associados paguem por isso", argumentou ainda, em referência à elite no poder em anos recentes.
Milei procurou tranquilizar sobre o destino dos setores de educação e saúde pública, lembrando que estes "não podem ser privatizados, porque são de responsabilidade das províncias", sendo a Argentina um estado federal, denunciado ainda uma "campanha de medo" contra ele sobre este assunto.
E reiterou que o seu programa de privatizações será de longo alcance: "Tudo o que puder estar nas mãos do setor privado estará".
O governante deu como exemplo a gigante petrolífera YPF, nacionalizada em 2012 sob a presidência peronista de Cristina Kirchner, mas também meios de comunicação públicos como a agência oficial Telam e a televisão TVP, "que se tornaram um mecanismo de propaganda", denunciou ainda.
E reafirmou o seu desejo de eliminar definitivamente o Banco Central, através da 'dolarização' da economia.
"A moeda será aquela que os argentinos escolherem livremente. Basicamente, estaremos a dolarizar para nos livrar-nos do Banco Central"; referiu, sem apresentar um cronograma.
Moderando certas esperanças, bem como receios, o economista ultraliberal de 53 anos garantiu que não levantaria imediatamente os controlos cambiais, caso contrário resultaria numa hiperinflação.
O recém-eleito Presidente divulgou ainda que irá viajar "nos próximos dias" para os Estados Unidos -- Miami e Nova Iorque -- e depois para Israel, mas a título privado, antes de assumir o cargo.
Javier Milei, do partido La Libertad Avanza, ganhou no domingo com 55,69% (14,5 milhões de votos) dos votos contra 44,30% (11,5 milhões de votos) obtidos pelo ministro da Economia, Sergio Tomás Massa, após 76% de participação eleitoral.
A tomada de posse de Milei como Presidente da Argentina durante os próximos quatro anos está prevista para 10 de dezembro, sucedendo ao peronista Alberto Fernández.