O presidente da Câmara de Lisboa (CML), Fernando Medina, considera que as dificuldades criadas pela pandemia de covid-19 podem ser transformadas em oportunidades para resolver problemas, como o acesso à habitação, congestionamento e poluição.
“Uma das principais propostas que estamos a trabalhar e a avançar neste período da pandemia é precisamente aproveitar a oportunidade que nos é dada pela dificuldade, que é o facto de os alojamentos locais não terem hoje clientes em número significativo, para alugarmos, arrendarmos esses alojamentos, para depois os podermos subarrendar a famílias das classes médias e aos jovens”, afirmou o autarca, que participava no debate Euragora 2020 "Turismo em tempos de Covid-19”, organizado pelas agências de notícias Lusa e EFE.
“Nós não podemos sair desta pandemia com os mesmos problemas que tínhamos à entrada da pandemia, sejam os problemas do congestionamento, da poluição, sejam os problemas pesados no acesso à habitação”, defendeu Fernando Medina.
De acordo com o autarca, a CML está a “tentar transformar o que era uma realidade da cidade – muitas casas afetas a alojamento local” – que, neste momento em que o turismo vive tempos difíceis, estão sem ocupação e com os seus proprietários também em dificuldades.
“Ora o que nós estamos a fazer é tentar transformar esta dificuldade numa oportunidade. De quê? De termos mais gente a viver na cidade, mais jovens, mais classes médias, uma cidade mais coesa, mais solidária com mais pessoas a viver dentro do centro da cidade de Lisboa”, sublinhou Fernando Medina.
Promover a habitação no centro da cidade é também, segundo o presidente da CML, uma forma de reduzir os movimentos pendulares e, consequentemente, a poluição, uma vez que as pessoas passam a utilizar menos o carro, deslocando-se a pé, de transportes públicos ou mesmo de bicicleta.
O autarca defendeu ainda a necessidade de se desenvolver um tipo de turismo sustentável, “compatível com a vida da cidade”, com os residentes, com os que nela trabalham e com o ambiente.
Fernando Medina reiterou, porém, que o turismo é uma atividade “absolutamente essencial do ponto de vista económico, cultural e de criação de uma sociedade mais aberta e tolerante” e, por esse motivo, deve-se “perceber e aceitar” que os turistas tenham vontade de conhecer Lisboa.
O autarca admitiu que o turismo de cidade pode continuar a sentir os efeitos da pandemia até que haja uma vacina ou medicamentos adequados.
Para Fernando Medina, a recuperação deste setor de atividade será “ténue”, uma vez que depende do sentimento de confiança das pessoas e, muitas vezes, da utilização do transporte aéreo.
No dia 7 de julho, o comissário europeu da Economia disse que o agravamento da projeção para a contração da economia portuguesa deve-se sobretudo a uma retoma abaixo do esperado no setor do turismo, e mencionou a reabertura tardia das fronteiras com Espanha.
Na conferência de imprensa de apresentação das previsões macroeconómicas intercalares de verão, nas quais Portugal foi o Estado-membro que viu mais agravada a projeção de contração do respetivo Produto Interno Bruto (PIB) – Bruxelas estima agora uma recessão de 9,8%, contra 6,8% em maio –, Paolo Gentiloni admitiu que, “sim, há uma diferença nestas previsões de verão relativamente às da primavera”.
“A diferença deve-se a um desempenho pior do que o esperado no primeiro trimestre e a uma recuperação mais lenta do que o previsto no turismo estrangeiro, particularmente no número de voos, e também no atraso da reabertura da fronteira com Espanha, que só aconteceu há alguns dias”, apontou então o comissário.
Segundo Gentiloni, esta acentuada revisão em baixa das projeções para a evolução do PIB português “confirma como a incerteza em torno de voos e do turismo global podem afetar particularmente economias muito dependentes” do setor turístico.