Na mensagem para a Quaresma, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga apela à “sobriedade digital e discernimento tecnológico”, justificando esta necessidade com “a crise climática e ecológica que tem afetado severamente o planeta”.
“O que fazemos on-line pode, a muitos, parecer irrelevante, mas coisas tão rotineiras como o envio de um e-mail, a colocação de um ‘gosto’ numa rede social, uma pesquisa num motor de busca ou o visionamento de um vídeo são ações poluentes”, sinaliza a mensagem enviada à Renascença.
O documento assinala que apesar de “os comportamentos individuais adequados” não serem suficientes “para combater a crise climática, não são, de modo algum, desprezíveis”.
“O somatório dos nossos consumos digitais acaba por ter um impacto ambiental significativo, mesmo que disso, tantas vezes, não tenhamos cabal consciência”.
A comissão alerta ainda que “o rasto de informações sobre tudo o que fazemos on-line – suscetível, aliás, de ser usado perversamente – é a nossa pegada digital e é, simultaneamente, uma parte relevante da nossa pegada de carbono e do volume total de gases com efeito de estufa que geramos”.
“Um simples e-mail não circula etereamente e a ‘nuvem’ em que fica armazenado é um dos muitos enormes blocos que são constantemente edificados para guardar os dados das nossas interações digitais. Esses espaços físicos funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, e requerem imensos consumos de energia, desde logo, por ser necessário refrigerar potentíssimos computadores”, lê-se no documento.
Assinalando que “pequenos gestos – como, por exemplo, desligar os dispositivos tecnológicos, particularmente os smartphones – têm consequências”, a comissão nota que “a parte mais significativa da poluição provocada pelos nossos aparelhos com ecrãs é expelida durante o processo de fabricação”.
“A sobriedade digital e o discernimento tecnológico oferecem benefícios variados, de natureza global e pessoal. A Quaresma proporciona uma boa oportunidade para, refletindo sobre o que têm sido as nossas prioridades de vida, olharmos para a nossa relação com a tecnologia”.
A comissão de justiça e paz da arquidiocese bracarense prossegue a sua reflexão, alertando que “as tecnologias são instrumentos, não são finalidades”. Daí a importância de defender “uma espécie de soberania digital que, como a designação sugere, permitirá a cada um ter o poder de usar os dispositivos tecnológicos utilmente, em vez de ser por eles seduzido e escravizado”.
Citando o Papa Bento XVI em “A Caridade na Verdade”, a mensagem aponta que “a liberdade humana só o é propriamente quando responde à sedução da técnica com decisões que sejam fruto da responsabilidade moral. Daqui a urgência de uma formação para a responsabilidade ética no uso da técnica”.
“A sobriedade, designadamente a digital, permite prestar atenção ao que é mais relevante. Em vez de uma imponderada submissão perante as tecnologias, importa dar prioridade ao estabelecimento de vínculos com as pessoas”.
No entender da comissão de justiça e paz, impõe-se, por isso, “que o relacionamento pessoal presencial tenha a primazia sobre as relações virtuais”.
“Os dispositivos tecnológicos não devem empobrecer as relações humanas, as quais não frutificam quando se acantonam tribalmente, privando-se assim da diversidade frutuosa que o encontro gratuito com o inesperado é capaz de oferecer”, prossegue.
“Olhemos menos para os ecrãs – tenhamo-los desligados durante um período diário”, conclui a mensagem.