Houve falhas na medição da qualidade do ar e na actuação das autoridades na sequência do incêndio na fábrica da Sapec, em Setúbal, que libertou dióxido de enxofre para a atmosfera. Em declarações ao programa Carla Rocha – Manhã da Renascença, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, diz que o risco foi subavaliado.
“Aquilo que se passou durante o dia de terça-feira é que as condições do incêndio modificaram-se e houve uma subavaliação. Não se avaliou que o incêndio podia continuar e que as concentrações elevadas podiam voltar a surgir por estarem a continuar emissões grandes”, descreve.
De acordo com o “Público”, as medidas cautelares foram tomadas com um atraso de 24 horas porque a unidade móvel de medição da qualidade do ar, da Agência Portuguesa do Ambiente, estaria avariada no dia do incêndio. O jornal escreve que o atraso na percepção do que estava a acontecer pode ter impedido a atempada intervenção da Direcção-Geral de Saúde (DGS).
A medição da qualidade do ar foi feita através das estações fixas mais próximas (estação do Quebedo, da APA, que fica já no interior da cidade, e do Outão, da Secil, que fica na Arrábida, do lado aposto ao incêndio), para onde a coluna de fumo não se deslocou.
Francisco Ferreira diz que o encerramento das escolas no Faralhão “foi uma boa medida", assim como os avisos à população. "O que falhou foi uma subavaliação na quarta-feira", explica.
"Na quarta-feira tivemos um episódio de poluição forte onde a precaução não funcionou porque foi enganado pelas condições meteorológicas e pelo próprio controlo do incêndio”, acrescenta o ambientalista.
Na sequência deste incêndio, 20 pessoas foram assistidas no hospital, entre as quais quatro crianças. A nuvem tóxica terá provocado lesões oculares numa criança de 10 anos mas, segundo o presidente do INEM, Luís Meira, o nível de concentração registado não deverá levar a lesões permanentes em nenhuma das vítimas.
Inicialmente, as autoridades previam que os valores da qualidade do ar normalizassem até ao final de terça-feira. Contudo, uma mudança na direcção de vento levou para a cidade a nuvem tóxica.
Esta alteração da qualidade do ar foi detectada em várias localidades e chegou até ao Porto.
O fogo que deflagrou na terça-feira de madrugada, num armazém em Mitrena, foi dado como extinto esta quinta-feira.