Vale o que vale. Mas o momento que levantou o congresso do CDS foi a subida a palco de Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular e candidato a presidente do CDS. Levantou o congresso quando subiu ao palco, levantou alguns em vários momentos do seu discurso inflamado, arrancou gritos de “CDS! CDS!” à saída e ninguém foi tão aplaudido na manhã de congresso.
Francisco Rodrigues dos Santos foi o último dos candidatos à liderança a apresentar a sua moção de estratégia global. “Estou neste congresso completamente livre e completamente solto”, começou por dizer, recuperando o lema da Juventude Popular, que João Almeida – ex-líder da JP e o primeiro candidato a discursar – também já tinha usado.
“Esta é uma candidatura que não deve favores a ninguém, nem é sucessora de coisa rigorosamente nenhuma”, continuou Francisco Rodrigues dos Santos para quem é preciso “enfrentar os adversários lá fora e vencer os erros cá dentro”.
E o erro, para o líder da JP, foi tentar tornar o CDS um "catch-all party", um partido que tenta chegar a todo o eleitorado. “Não somos um partido de meias-tintas”, disse, apelando ao combate em nome da definição do partido. “Quando o combate aperta e a febre aumenta fascistas somos todos”, disse apontando o que considera ser os preconceitos de quem vê o CDS de fora.
“Só quem não tem medo de ser chamado radical é que pode ser livremente moderado”, continuou Francisco Rodrigues dos Santos, que quer fazer do CDS “um partido forte que dispensa a mediação da imprensa para fazer passar as suas ideias”.
João Almeida contra os “controleiros”
Nos discursos de apresentação das moções de estratégia global, ficou clara a oposição entre Francisco Rodrigues dos Santos e João Almeida. O primeiro, líder da JP, anuncia-se como capaz da rutura com a estratégia de Cristas e cola João Almeida, que o antecedeu na JP, aos erros da estratégia de Cristas, de quem Almeida foi porta-voz.
“Há também quem diga que sou o rosto do insucesso. Será que quando fui eleito em 2002 pela Juventude Popular para o parlamento foi insucesso?”, perguntou João Almeida no seu discurso, em que tentou descolar dessa imagem de continuidade com o rumo levado nos últimos anos.
João Almeida recusou haver “problemas de identidade” no CDS-PP e disse que quer ser o presidente de um partido “livre e não de um partido controlado”, de um partido “dos militantes livres e soltos”.
“Não vamos ser a direita que a esquerda gosta, vamos ser a direita que a esquerda não gosta. Vamos ser o partido dos militantes livres e soltos, sem controleiros” e “sem messianismos”, declarou o deputado eleitor por Aveiro, numa alusão implícita a Francisco Rodrigues dos Santos.
No seu discurso, João Almeida deixou também no ar a promessa de um candidato presidencial próprio do CDS. “Vamos ter o desafio das presidenciais, sabem qual é a minha opinião sobre a avaliação do mandato do atual Presidente da República, mas, se por alguma razão for preciso o CDS ter um candidato às eleições presidenciais, eu sei quem é, sei como vamos fazer e tenho a garantia que teremos esse candidato”, afirmou.
Já Filipe Lobo d’Ávila, outro dos principais candidatos, lançou o convite a Assunção Cristas para ser candidata de novo à Câmara Municipal de Lisboa.
Candidato para apoiar outros
João Almeida, Filipe Lobo d’Ávila e Francisco Rodrigues dos Santos são os principais candidatos à liderança, mas há ainda mais dois candidatos: Abel Matos Santos, da Tendência Esperança em Movimento, e Carlos Meira, um militante de Viana do Castelo.
Abel Matos Santos foi o primeiro subscritor de moções a falar e, portanto, também o primeiro candidata à liderança a subir ao palco. Defendeu um CDS conservador, uma mudança do rumo do partido para a direita.
“Um CDS preocupado com aqueles que não podem nascer devido ao Aborto, por falta de condições que o Estado não assegura. Um CDS preocupado com a forma como os mais velhos e doentes sofrem e morrem por falta da mais justa e elementar ajuda médica e de enfermagem! Um CDS preocupado com a ideologia do género, que confundindo propositadamente igualdade, rejeita a equidade, e leva a doutrinação para o espaço público, para as escolas, querendo criar o homem novo! Um CDS que combata a corrupção e os interesses ilegítimos!”, defendeu Abel Matos Santos.
“O CDS faz falta mesmo! Mas faz falta para isto, não para de forma tímida e cúmplice cumprir, como muitas vezes fez, a agenda da esquerda e do socialismo, ora por ausência ora por concordância”, acrescentou o candidato que acusa Assunção Cristas de ter descaracterizado o partido.
“O CDS bateu no fundo e com estrondo”, disse por sua vez Carlos Meira, que atacou mesmo o partido por “negociatas vergonhosas”. Este militante, que já admitiu existir da sua candidatura em favor de Francisco Rodrigues dos Santos, defendeu que “para se reerguer o CDS precisa de se clarificar” e desafiou os candidatos à liderança a dizerem desde já quem são os seus candidatos a secretário-geral do partido.
Para além das moções defendidas pelos cinco candidatos, há mais sete moções de estratégia global que foram apresentadas antes da interrupção dos trabalhos para almoço.