A presidente da Comissão Europeia admitiu esta segunda-feira que as alegações de corrupção contra a vice-presidente do Parlamento Europeu Eva Kaili são "muito graves" e defendeu a criação de um órgão independente de ética aplicável a todas as instituições europeias.
"As alegações contra a vice-presidente do Parlamento Europeu suscitam a maior preocupação, são muito graves. Está em causa a confiança das pessoas nas nossas instituições. E esta confiança nas nossas instituições exige elevados padrões de independência e integridade", começou por declarar Ursula Von der Leyen, quando questionada sobre o assunto durante uma conferência de imprensa na sede da Comissão, em Bruxelas.
Lembrando que "há regras muito claras para todos os comissários" e que o executivo comunitário já tem o seu código de conduta e publica de forma transparente o registo de reuniões de membros do colégio com representantes de interesses, Von der Leyen recordou que, em março passado, já propôs "a criação de um órgão de ética independente que abranja todas as instituições da União Europeia (UE)", a ser estabelecido "com os mais elevados padrões".
"Escrevi uma carta em março dirigida não só ao Conselho e ao Parlamento Europeu, mas também, por exemplo, ao Tribunal de Justiça Europeu, ao Banco Central Europeu, ao Tribunal de Contas, a todas as instituições. Para nós, é fundamental que tenhamos não só regras fortes, mas também as mesmas regras que cubram todas as instituições europeias, e que não permita qualquer tipo de exceções", declarou a presidente do executivo comunitário.
"É uma questão de transparência, de regras muito claras, e todas as instituições europeias devem obedecer às mesmas regras que estabelecermos", frisou.
A eurodeputada grega Eva Kaili, vice-presidente do Parlamento Europeu e membro da bancada dos Socialistas europeus (grupo dos Socialistas e Democratas, S&D), encontra-se detida na Bélgica, por alegado envolvimento num caso de corrupção relacionado com subornos do Qatar para influenciar as decisões do Parlamento Europeu relativas à realização da edição de 2022 do Mundial de futebol naquele país.
Um juiz belga decidiu no domingo acusá-la juntamente com outras três pessoas - incluindo o seu companheiro, o italiano Francesco Giorgi - pelo crime de participação em organização criminosa, branqueamento de capital e corrupção.
A Autoridade de Combate ao Branqueamento de Capitais grega confiscou hoje os bens (imóveis, contas bancárias, empresas) no país da vice-presidente do Parlamento Europeu (atualmente suspensa do cargo) e dos seus familiares mais próximos.
A apreensão dos bens de Kaili e dos seus familiares mais próximos na Grécia foi ordenada pelo chefe da Autoridade de Combate ao Branqueamento de Capitais e procurador-adjunto da Supremo Tribunal grego, Jaralabos Vurliotis, com a justificação de que é possível que sejam provenientes de atividades ilegais.
O pai de Kaili também está envolvido no caso, já que na sexta-feira a polícia o deteve em flagrante num hotel com um saco com 600 mil euros em dinheiro, com o qual pretendia fugir.
Segundo os meios de comunicação gregos, outros 150 mil euros foram encontrados em malas numa busca realizada na casa de Kaili em Bruxelas.
Os socialistas do Parlamento Europeu decidiram no sábado suspender Kaili do grupo parlamentar, enquanto as suas funções como vice-presidente foram suspensas pela presidente do Parlamento Europeu, a maltesa Roberta Metsola.