O número de casos está a aumentar nas últimas semanas mas o Governo não pensa, para já, em voltar a disponibilizar gratuitamente testes de diagnóstico. Esta quinta-feira, a ministra da Saúde anunciou que a linha SNS24 vai passar a prescrever, de forma automática, testes rápidos de antigénio à covid-19 para quem tenha auto teste positivo. Mas, para isso, é necessário comprar este tipo de diagnóstico.
Em declarações à Renascença, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, considera que esta é uma estratégia do Ministério da Saúde “tentar poupar dinheiro” em testes, defendendo o regresso de testes grátis num “esforço final” para combater a pandemia.
“Não faz sentido nenhum. Os testes, neste momento, deviam ser gratuitos. Vamos ter esta situação de aumento de incidência e transmissibilidade durante cerca de um mês ou dois”, diz, acrescentando que “muita gente não tem dinheiro para fazer testes”.
Para Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, esta é uma decisão de carácter mais político.
“O Governo não quis dizer que voltou atrás. A oferta de testes em locais de proximidade era importante, porque permitia um acesso facilitado à confirmação da sua doença e faria com que mais rapidamente e mais facilmente fossem diagnosticadas”, diz à Renascença, lembrando que a medida de prescrição automática através da linha SNS24 deixa de fora as pessoas que não conhecem este sistema.
“É uma medida insuficiente. O Governo deveria repensar esta decisão e oferecer testes gratuitos à população”, considerando ainda que o regresso do uso obrigatório de máscara em espaços fechados “faria todo o sentido” para conter uma nova vaga, com a abertura de exceções para instituições de ensino.
Não sei quanto dinheiro custam os autotestes, mas custam alguma coisa. E há muita gente para quem vinte euros faz muita diferença. Pessoas com pensões pequenas, com rendimentos baixos, não vão fazer o teste porque não querem gastar dinheiro.
Já o diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar de São João, António Sarmento, lembra que, para maiores de 80 anos, a vacina muitas vezes é pouco eficaz e esta é a faixa etária que regista mais mortes por Covid-19.
“Quanto mais cuidado houver na comunidade, menos pessoas serão contagiadas. Estamos a protegê-las”, diz à Renascença.
Nesta quinta-feira, Marta Temido transmitiu que a medida de testes gratuitos que já esteve em vigor “já não é adequada”, numa altura em que Portugal regista a segunda maior média mundial de novos casos por população, apenas atrás da Austrália.