França e Rússia bombardearam esta terça-feira alvos do Estado Islâmico na Síria. São, segundo a agência Reuters, os primeiros passos rumo a uma possível aliança militar entre os dois países.
De acordo com uma informação avançada esta terça-feira pelo Kremlin, o Presidente russo, Vladimir Putin, falou com o seu homólogo francês, François Hollande, sobre os atentados de Paris e a guerra contra o autoproclamado Estado Islâmico, que controla parte do Iraque e da Síria.
Putin ordenou à marinha russa que estabeleça contactos com a força naval francesa que se dirige para a zona Oriental do Mediterrâneo e que a trate como aliada.
“Temos de elaborar um plano com eles de acções conjuntas aéreas e navais”, disse o Presidente russo aos seus chefes militares.
A Rússia começou em Setembro uma campanha de bombardeamentos contra posições dos rebeldes sírios que se opõem ao Presidente Bashar al-Assad, entre os quais está o Estado Islâmico, mas também outros grupos moderados.
Hollande tem encontro marcado com Putin, em Moscovo, a 26 deste mês, dois dias depois de uma reunião, em Washington, com o Presidente norte-americano, Barack Obama.
O objectivo é concertar esforços na luta contra os terroristas do Estado Islâmico, que reivindicaram os atentados de sexta-feira, em Paris, que provocaram a morte a 129 pessoas, entre as quais dois portugueses.
A França bombardeou esta terça-feira, pela terceira noite consecutiva, posições dos jihadistas.
Loureiro dos Santos. Putin quer aparecer como potência mundial
A pronta manifestação da Rússia em cooperar militarmente com a França no combate aos terroristas do Estado Islâmico na Síria não surpreende o general Loureiro dos Santos.
Para este especialista em defesa nacional, a Rússia, além de ter aliados e interesses na região, quer manter a imagem de grande potência mundial.
“Em primeiro lugar, a Rússia pretende manter-se – e Putin é neste momento o arauto dessa vontade – como uma das maiores potências mundiais. E, de certa forma, a Rússia está a aparecer lado a lado com os Estados Unidos nesta crise da Síria”, diz.
“Por outro lado, a Rússia tem interesses específicos naquela região: Em primeiro lugar, o Mediterrâneo é um mar essencial para a Rússia. A Rússia, para colocar os seus meios navais no alto mar, tem que passar pelo Mediterrâneo. Finalmente, além de ter esses interesses, tem aliados na região e, por conseguinte, esse facto é importante para esses países.”
Loureiro dos Santos admite como normal o pouco entusiasmo dos Estados Unidos na resposta ao apelo de cooperação por parte da França.
“Embora tudo o que se passe no mundo seja importante para os Estados Unidos, o Mediterrâneo é uma região que está longe dos seus interesses imediatos e os Estados Unidos têm uma série de países aliados na Europa que podem ser seus porta-vozes, digamos assim. Estou a falar na Inglaterra, na França, etc.. Portanto, não vejo nada de negativo nesse comportamento”, diz o especialista.