O ex-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), Carlos Magno, pediu esta sexta-feira aos partidos políticos que "por favor não legislem" sobre as 'fake news', e acusou quem fala delas de ser habitualmente o maior produtor de desinformação.
Carlos Magno foi um dos oradores do último painel das jornadas parlamentares do PSD, que terminam no Porto, e deixou um "aviso prévio" sobre o que pensa do "tema muito sexy" que são as 'fake news', comummente conhecidas por notícias falsas, desinformação ou informação propositadamente falsificada com fins políticos ou outros.
"Geralmente quem fala em 'fake news' e acusa os outros de produzirem 'fake news', produz 'fake news'. Não vou dar exemplos, mas em Portugal há brigadas ideológicas a produzirem 'fake news'", apontou.
"Não sei se no PSD também se produzem. Os governos produzem, os partidos políticos produzem e aqueles que decidiram abrir campanha contra as 'fake news' têm manifestamente uma grande fábrica e uma grande atividade de 'fake news'", acrescentou.
Recordado as funções que desempenhou entre 2011 e 2017 na ERC, Carlos Magno deixou um pedido aos partidos.
"A minha primeira preocupação sobre este assunto foi dizer: por favor, não legislem. A única legislação que peço aos partidos políticos para fazerem é uma: separarem o que é informação do que é entretenimento", pediu, apelando a que se defina em lei o que é o ato jornalístico.
Lembrando casos ocorridos em Portugal como o burlão Artur Baptista da Silva - que deu entrevistas passando-se por economista e consultor da ONU e do Banco Mundial -, Carlos Magno defendeu que este fenómeno não começou com o atual Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Foi o Obama quem destruiu a Hilary Clinton com 'fake news' nas primárias há dez anos, não há santos neste mundo", disse.
Para o jornalista, a questão das 'fake news' diz respeito aos cidadãos e não à ERC, "porque o que um dia é mentira no outro é verdade", dando um exemplo.
"Quando queriam que o 'Correio da Manhã' fosse condenado pelas notícias sobre o engenheiro Sócrates, eu votei contra. No dia seguinte, como se viu, as notícias do CM tinham algum fundamento e a opinião mudou completamente", apontou.
Depois das "fake news", a "fake politics"
Não de 'fake news' mas de 'fake politics' (políticas falsas) falou outro dos oradores do painel sobre "O Portugal que queremos", o vice-presidente do PSD David Justino, que lamentou que os mais qualificados estejam a ser mandados "borda fora" do país.
"Quando nos dizem: 'Baixámos o desemprego, a emigração desceu', são aquelas meias verdades que são piores que mentiras. Não são 'fake news', são 'fake politics'", considerou, defendendo que, para "além de tentarem iludir o problema, alimentam o problema".
David Justino referiu que os números da emigração nos últimos anos - cerca de 95 ou cem mil por ano -- não baixaram significativamente desde o período da 'troika', o que atribui ao facto de a maioria dos empregos criados serem de baixas remunerações.
"Nós arriscamo-nos que os que emigram sejam precisamente os mais qualificados. Isto significa que o investimento feito pela sociedade portuguesa na qualificação dos seus ativos está a ser mandado pela borda fora sem sabermos", criticou.
Recorrendo a uma metáfora futebolística, o Justino salientou que, "no futebol, chama-se transferências a custo zero".
"O mecanismo é mesmo, só que não há indemnização das equipas que formam os jogadores", afirmou, alertando que Portugal gasta com cada jovem de qualificação média cerca de cem mil euros.
As jornadas parlamentares do PSD, que decorreram no Porto desde quinta-feira sob o lema "Visão e Ambição por um Portugal Melhor", encerram hoje com a intervenção do presidente do PSD, Rui Rio.