O projeto “Até Quando?” tem como base criar impacto social, enquanto consciencializa os mais novos para a violência no namoro. É uma iniciativa da Associação Impac’tu, associação juvenil, composta por estudantes universitários.
“A ideia surgiu quando tivemos perceção de que os números na cidade do Porto, e em todo o país, aumentavam de forma gradual e que os jovens já olhavam para algumas realidades da violência no namoro como legítimas e normais do quotidiano”, explica à Renascença, Filipe Ribeiro.
O presidente da Impac’tu acrescenta que a preocupação da associação foi tentar intervir junto dos mais novos e sensibilizar, através da presença nas escolas, nas redes sociais e nos media, para este problema que tem vindo a crescer nos últimos anos.
“Pegamos nos estudantes universitários, ou seja, nos membros da associação, e também em estudantes de toda a academia, para chegar a mais estudantes, a mais escolas e aumentar esta sensibilização, o que tem sido também notável pelo feedback que já vamos obtendo junto dos mais novos”, assinala.
Vítimas não têm que perceção que são vítimas
Filipe Ribeiro nota que as vítimas, na sua maioria, “não têm a perceção que são vítimas e, às vezes, são tão novos, e mesmo estando informados dos apoios, quando chega o momento não sabem como devem contactar, quem devem contactar”.
“E esse papel também é feito por nós, no sensibilizar quem tem essa linha de apoio, desde a APAV, qualquer polícia, as próprias escolas que devem ter uma intervenção”, explica o estudante, acrescentando que a própria associação “não se refugia da situação e está disponível para apoiar no sentido de fazer esse encaminhamento de pessoas, para se sentirem mais à vontade”.
No entender da associação é muito mais fácil identificar as pessoas mais próximas, são as pessoas com quem se tem mais contacto e que olhamos com mais responsabilidade. E todos podemos ser um veículo de apoio até chegarmos às linhas que têm essa capacidade, porque eles não têm, muitas vezes, a perceção. É aí que o projeto também quer ter esse papel.
Mas o projeto “Até Quando?” não tem só a consciencialização social, tem também “a perspetiva jurídica do crime público que está em causa, que é um crime que está incorporado na violência doméstica no Código Penal e que tem todas essas mesmas ferramentas que a violência doméstica tem, no caso da violência no namoro”, sublinha Filipe Ribeiro.
Segundo o presidente da Impac’tu, a sensibilização é fundamental para despertar consciências, porque, muitas vezes, o problema da violência no namoro é vista como algo normal dentro das relações.
E há vários tipos de violência, alerta o estudante universitário, “desde a violência física, psicológica, económica, social, onde se inclui a perseguição” e, neste contexto, é” fundamental que os jovens estejam informados para poderem identificar e atuar”.
“Criar impacto” junto da comunidade mais desfavorecida
Neste momento, o projeto “Até Quando?” desenvolve-se online e presencialmente, em várias escolas da região do Porto. Intervém também junto de associações juvenis e quer estender a sua intervenção ao Centro Histórico do Porto, para sensibilizar também a comunidade, para além dos mais novos.
A Associação Impac’tu nasceu com o objetivo de criar impacto junto da comunidade mais desfavorecida da cidade do Porto e o seu campo de ação é o centro histórico e a zona oriental da cidade, onde trabalha com o apoio junta de freguesia e a Comissão de Proteção de Menores.
O objetivo “é reforçarmos o apoio e darmos alguns apoios, quer no âmbito do apoio social, do combate à pobreza, mas, acima de tudo, questões como o empoderamento para autonomia familiar, em que vamos tendo estas questões, desde a inclusão social à integração na comunidade”, explica Filipe Ribeiro.
Os jovens universitários que fazem parte da associação querem ter um papel ativo na criação de impacto social junto da comunidade portuense e também já têm desenvolvido alguns trabalhos no apoio habitacional em São João da Pesqueira.
“Nós olhamos e identificamos as realidades sociais e económicas e criamos um plano de intervenção e de criação de impacto. Mesmo que um dia deixemos aquela família - não significa que temos de sair, olhamos para uma perspetiva futura, que é deixar essa família numa realidade social, familiar e económica mais favorecida”, conta o presidente da Impac’tu.
Com cerca de 50 estudantes universitários, a associação analisa os casos que lhe chegam, muitas vezes através de entidades públicas, e depois desenha planos de intervenção e estabelece várias metas e compromissos, juntamente com as famílias onde vai intervir.
“Muitos dos casos têm a ver mesmo com questões meramente familiares, trazer esta família para a comunidade, porque temos casos também de pessoas de famílias de etnias minoritárias, então esse é um trabalho que é reforçado, não tanto naquela ideia de darmos logo o peixe à família, mas queremos dar-lhe as ferramentas necessárias para que isto seja criado”, conta Filipe Ribeiro.
Não ter medo de “por as mãos na massa”
O lema da associação, sublinha o estudante, “é não termos medo de por as mãos na massa”, dando o exemplo de um caso recente que lhes chegou através da União de Freguesias e que dava conta de uma pessoa que acumulava objetos e cuja habitação se encontrava em muito mau estado.
“Não queremos simplesmente deixar a casa bonita e depois partir. Acreditamos que devemos ter um papel junto desta pessoa, desta família, de explicar e de trabalhar com ela para que essas realidades não voltem a acontecer. Então, esta intervenção na habitação, desde pintura e higienização, melhorar o mobiliário, não passa unicamente por uma intervenção de uma semana, mas, sim, de um trabalho contínuo que queremos ter junto destas pessoas e desta comunidade portuense”, detalha.
Segundo Filipe Ribeiro, uma só coisa move os estudantes: a capacidade de missão e de serviço para com a comunidade.
“Como nós costumamos dizer, a nossa remuneração são os sorrisos das pessoas que nós deixamos no final de cada dia, porque não há melhor forma de sentir que fazemos missão”, observa, reiterando que o que fazem “não é voluntariado, mas sim missão”, porque com “o objetivo maior de intervir junto destas famílias”. Quando como estudantes universitários “poderiam ter outras preocupações, dedicam as horas do seu dia para estar com estas famílias a criar um plano para criar impacto”.
“E hoje é muito usado este termo de impacto social, mas é algo que vai muito para além de um sorriso. É um sorriso mais prolongado, quando nós vamos junto da comunidade, no final do dia, no final de cada etapa e no fim do ano, e olhamos para o nosso trabalho de missão cumprida, como se costuma dizer”, sublinha.
Para os universitários, “a missão está onde há alguém a precisar de ajudar” e acreditam que esta missão que desenvolvem é uma mais valia que os ajuda a ser melhor pessoas e os compromete em termos de futuro na construção de uma sociedade mais equilibrada e justa.
Quando nasceu a Associação Impac’tu contava apenas com estudantes da Faculdade de Direito da Universidade do Porto e da Universidade Católica. Atualmente já são de mais de 14 faculdades diferentes. E orgulha-se de representar praticamente toda a academia do Porto e de não contar até hoje, para a sua intervenção, com qualquer apoio financeiro público.
“Tudo o que conseguimos alcançar foi do nosso trabalho, do nosso suor, da vontade que os próprios estudantes universitários têm”, conclui Filipe Ribeiro.