Os Estados Unidos da América e a União Europeia chegaram esta terça-feira a um acordo para pôr fim a uma disputa de 17 anos sobre os subsídios às empresas de aeronáutica - a Boeing do lado americano e a Airbus do lado europeu.
O acordo irá suspender durante cinco anos a imposição de tarifas elevadas às duas empresas, poupando as economias americana e europeia vários milhares de milhões de euros, segundo o New York Times.
As taxas são aplicadas sobre as exportações das duas empresas, no âmbito de uma disputa sobre os subsídios e ajudas alegadamente ilegais por cada uma das entidades às respetivas empresas.
O anúncio do acordo foi feito por Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, no início do dia, depois de uma longa noite de negociações entre o Conselho Europeu, a Comissão Europeia liderada por Ursula von der Leyen, e o Presidente americano Joe Biden.
“Esta reunião resultou num grande progresso para o sector da aviação, que abre um novo capítulo no nosso relacionamento. Ao fim de 17 anos de disputa, avançamos da litigância para a cooperação”, disse Michel, concluindo com sucesso a cimeira entre a União Europeia e os Estados Unidos, em Bruxelas.
A representante dos Estados Unidos da América para o comércio, Katherine Tai, deixou no entanto um aviso: se os europeus derem demasiada preferência à Airbus, os americanos não têm receio em voltar atrás.
"Estas tarifas vão manter-se suspensas, enquanto o apoio da União Europeia à Airbus seja consistente com os termos do acordo. Se a UE passar a linha vermelha, e se os produtores americanos não conseguiram competir num campo equilibrado e justo, os EUA mantém flexibilidade para reativar as tarifas suspensas", salientou.
A "guerra" entre europeus e americanos em torno dos apoios de um e outro às duas gigantes aeronáuticas baseia-se nas ajudas de Estado, reguladas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), sendo que ambos os lados acusam o "rival" de ajudar ilegalmente as empresas.
Por um lado, a União Europeia acusa os EUA de financiar a Boeing através de contratos militares secretos. Já os EUA falam num sistema de créditos pelos governos da Alemanha, França, Espanha e Reino Unido, que vão reembolsando os investimentos da Airbus.
Em 2019, a OMC acusou a União Europeia de financiar ilegalmente a Airbus, motivando uma resposta americana que consistiu em tarifas que atingiam os 7,5 mil milhões de dólares.
Um ano depois, o filme repetiu-se com os protagonistas inversos: os Estados Unidos foram acusados de beneficiar ilegalmente a Boeing pela OMC, levando a que a UE recolhesse 4 mil milhões de dólares em tarifas.
O acordo temporário atingido esta terça-feira é um sinal da direção das boas relações diplomáticas entre EUA e UE, resolvendo uma longa e penosa disputa que teimava em deixar um ar tenso nos dois blocos. Agora, as duas partes vão tratar de levantar tarifas em torno de outras exportações, nomeadamente de aço e de alumínio.
Aliás, a suspensão das tarifas surge depois de Joe Biden - numa iniciativa completamente oposta ao seu antecessor, Donald Trump - ter elogiado muito a União Europeia, durante o G7, ao lado do Presidente francês Emmanuel Macron. "Eu acho que a União Europeia é uma entidade incrivelmente forte e vibrante, e tem muito impacto na capacidade da Europa Ocidental de não só resolver problemas económicos, mas também de fornecer a espinha dorsal e o apoio à NATO".
No Twitter, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também contou que a UE e os EUA acordaram em outros assuntos, nomeadamente uma task force conjunta de vacinação e num grupo de ação para conter o impacto das alterações climáticas.