O Vaticano denuncia num novo documento sobre a Amazónia a exploração levada a cabo por interesses económicos que ameaçam o “pulmão do planeta” e os direitos dos povos indígenas.
“A vida na Amazónia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazónica. De modo especial a violação dos direitos dos povos originários, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios”, assinala o documento de trabalho da assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que o Papa convocou para outubro.
O texto conta com o contributo das comunidades locais, que apontam o dedo a “interesses económicos e políticos dos setores dominantes”, em particular “empresas extrativistas, muitas vezes em conivência, ou com a permissividade dos governos locais, nacionais e das autoridades tradicionais”.
Entre as ameaças elencadas estão “os grandes interesses económicos, ávidos de petróleo, gás, madeira, ouro, monoculturas agroindustriais”, bem como “megaprojetos de infraestruturas, como as hidroelétricas e estradas internacionais, e atividades ilegais vinculadas ao modelo de desenvolvimento extrativista” de minérios.
A Santa Sé dá voz a preocupações sobre “a destruição múltipla da vida humana e ambiental, as doenças e a contaminação de rios e terras, o abate e a queima de árvores, a perda maciça da biodiversidade, o desaparecimento de espécies”.
“O território transformou-se num espaço de desencontros e de extermínio de povos, culturas e gerações”, adverte o “instrumentum laboris”, falando num “ponto de não-retorno”.
O documento orientador dos trabalhos do Sínodo 2019 fala numa região “disputada” por várias frentes, com “violação dos Direitos Humanos e destruição extrativista”, evocando os “defensores dos direitos humanos” e os seus mártires, como a irmã Dorothy Stang.
A religiosa católica, defensora dos direitos dos povos ribeirinhos da floresta amazónica, tinha 73 anos e morava no Brasil há 30 quando foi assassinada a 12 de fevereiro de 2005, com seis tiros.
A questão dos “povos isolados”, particularmente vulneráveis, e os desafios levantados pela emigração são outros temas abordados.
O Vaticano recorda que, na Amazónia, “entre 70 e 80% da população reside nas cidades”, alertando para a “urbanização da pobreza”, o aumento da violência e a corrupção.
Os responsáveis católicos defendem a valorização da cultura e das línguas indígenas, na educação institucional.
A assembleia de bispos foi anunciada pelo Papa a 15 de outubro de 2017 e vai refletir sobre o tema ‘Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral’, de 6 a 27 de outubro de 2019.
A Igreja Católica atua na região através da Rede Eclesial Pan-Amazónica, REPAM, que inclui representantes de comunidades católicas de nove territórios: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana-Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
Até hoje houve 14 assembleias gerais ordinárias e três extraordinárias, as últimas das quais dedicadas à Família (2014 e 2015).