O líder do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, não compareceu na cerimónia de tomada de posse do novo Governo. O PS fez-se representar por Alexandra Leitão, que não fez declarações. Dá a impressão que os socialistas ainda não definiram como irão fazer oposição ao Governo que não seja bloqueio.
Mas o PS esteve presente na cerimónia, pois o primeiro-ministro cessante, António Costa, não só participou na posse (era sua obrigação) como fez várias declarações. A. Costa desejou “as maiores felicidades” ao seu sucessor e, referindo-se ao discurso de L. Montenegro, considerou-o “bom, claro e coerente com o que foi defendido na campanha”.
Foi, de facto, um bom discurso o de Montenegro na sua posse. Parece-me um exagero afirmar que o novo primeiro-ministro tentou “um xeque-mate ao PS” ou que pediu aos socialistas “para deitarem ao lixo o seu próprio programa” ou ainda que este discurso tinha sido “um exercício político de captura do PS”, afirmações de Ana Sá Lopes no Público de quarta-feira.
Montenegro desafiou os socialistas a escolherem entre oposição e bloqueio, não representando esse desafio qualquer xeque-mate ou uma intolerável imposição. Claro que o PS não pode deixar para o Chega a função de opositor ao Governo. Como é natural, tudo dependerá de negociações parlamentares.
E é ao Governo que cabe a iniciativa de procurar os apoios suscetíveis de permitirem a concretização das medidas que propõe, sabendo que não poderá executar na íntegra o seu programa.
Estamos todos a viver uma nova conjuntura política, que implica para o governo um “diálogo aturado e muito exigente com o PS”, como afirmou o Presidente da República. Porquê com o PS, deixando o Chega de fora? Porque o PS, assim como a direita democrática ou “moderada”, são fiéis à era democrática que o 25 de abril abriu.
Já no caso do Chega são visíveis indícios de aproximação ao regime derrubado há cinquenta anos. O que não deve impedir o Governo de negociar também com o Chega a viabilização de medidas avançadas pelos governantes.