O Presidente da República considera que "é muito importante" que a Alemanha compreenda os esforços e os sacrifícios feitos por Portugal para cumprir os compromissos europeus, reiterando que a aplicação de sanções devido ao défice seria "injusta".
Em declarações aos jornalistas à chegada a Berlim, antes de uma recepção a representantes da comunidade portuguesa, na residência do embaixador de Portugal, e ladeado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, Marcelo Rebelo de Sousa apontou que discutirá "inevitavelmente" com a chanceler Angela Merkel e com o Presidente Joachim Gauck, na segunda-feira, a questão das eventuais sanções a Portugal, expondo os motivos pelos quais considera que o país não as merece.
Embora sublinhando que "é preciso não confundir a competência dos órgãos europeus com o papel dos Estados", e que "há decisões que pertencem a órgãos europeus", como as sanções no quadro dos procedimentos por défice excessivo, pelo que até "seria uma indelicadeza para a Comissão, para os comissários europeus e até para o Conselho Europeu estar a antecipar aquilo que vai ser uma decisão a nível europeu", o chefe de Estado admitiu a importância de sensibilizar Berlim, pela sua influência, para o esforço "que foi feito no passado" e que "está a ser feito no presente e vai ser feito no futuro" em Portugal.
"É evidente que é muito importante, como em relação a qualquer outro Estado europeu, e em relação à Alemanha de uma forma muito impressiva, o explicar aquilo que eu tenho a certeza que será importante ser compreendido, que é o esforço e os sacrifícios que os portugueses fizeram, cumprindo os compromissos europeus no passado, e daí o entender-se que esse esforço não deveria merecer qualquer tipo de sanção, e o esforço que está a ser feito para continuar a cumprir os compromissos no presente e no futuro", referiu.
Questionado sobre as posições assumidas na semana passada pelo ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, que durante uma reunião dos ministros das Finanças da UE (Ecofin), em Bruxelas, manifestou a sua oposição ao adiamento de sanções a Portugal e Espanha decidido pela Comissão Europeia, Marcelo Rebelo de Sousa disse não querer comentar "especificamente as declarações de um governante alemão", dado não querer entrar "em questões de política interna alemã".
Sistema financeiro deverá “vir à baila”
O Chefe de Estado admitiu que a estabilidade do sistema financeiro português deverá "vir à baila" na reunião com Merkel.
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que "um ponto que inevitavelmente poderá vir à baila é o da importância da estabilidade do sistema financeiro", e designadamente o seu "reforço contínuo", sem referir de forma específica os "dossiês" da capitalização da Caixa Geral de Depósitos e o processo de venda do Nova Banco.
"Nós não podemos esquecer que a Alemanha é neste momento um parceiro económico muito importante de Portugal. Nós estamos perante o terceiro destino das nossas exportações, o segundo grande fornecedor da economia portuguesa e um grande investidor directo em Portugal.
Portanto, quem é que está interessado na estabilidade do sistema financeiro português? A Alemanha", disse.
Sustentando que se trata de "uma realidade importante para Portugal mas também para a Alemanha", o chefe de Estado admitiu que vai "naturalmente explicar que o reforço contínuo do sistema financeiro é bom para Portugal, mas é muito bom para um parceiro que tem tantas ligações à economia portuguesa".
O Presidente da República chegou hoje a Berlim para uma vista oficial de dois dias, que tem como objetivo fundamental sensibilizar as autoridades alemãs para a "injustiça" que representaria a aplicação de sanções a Portugal devido ao défice.