O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, rejeitou esta terça-feira o criticismo internacional às políticas ambientais adotadas pelo seu Governo e à forma como tem gerido a pandemia de Covid-19, numa altura em que o Brasil é o segundo país do mundo com mais infetados e mais mortos, a seguir aos EUA.
Num discurso gravado para a sessão remota da assembleia-geral das Nações Unidas, por ocasião dos 75 anos da ONU, Bolsonaro, que repetidamente tem minimizado a gravidade do novo coronavírus, lamentou que mais de 137.200 pessoas já tenham morrido no Brasil vítimas da Covid-19.
O Presidente brasileiro também refutou acusações de ativistas ambientais, que o acusam de encorajar fazendeiros ilegais e especuladores a incendiarem terreno na Amazónia para aumentar o seu valor para exploração agrícola.
A floresta da Amazónia está neste momento a lidar com a pior vaga de incêndios dos últimos 10 anos, enquanto no Pantanal, a maior área húmida tropical do mundo, se registam os maiores incêndios de que há memória.
No discurso à ONU, Bolsonaro declarou que a agricultura brasileira alimenta mil milhões de pessoas a nível mundial e defendeu que o Brasil tem a melhor legislação de proteção do ambiente do mundo.
"E mesmo assim somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazónia e o Pantanal", declarou, sem especificar que parte da informação é falsa.
O Governo de Bolsonaro tem classificado as críticas às suas políticas ambientais como uma fachada para o protecionismo na Europa, um mercado concorrente da agricultura brasileira, onde várias empresas têm ameaçado boicotar produtos oriundos do país.
O Presidente brasileiro garantiu que o seu Governo está empenhado em concluir o acordo comercial a ser negociado entre a União Europeia (UE) e o Mercosur, bloco comercial sul-americano.
Também dirigiu novos ataques aos media, que culpa pelo que diz ser a "politização" da pandemia e por espalharem o pânico entre os brasileiros, dizendo-lhes que devem ficar em casa e conduzindo ao "caos social", por oposição ao seu Governo, que adotou medidas económicas de emergência "arrojadas" para evitar uma crise pior.
“Desde o princípio, alertei, no meu país, que tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade (…) O nosso Governo, de forma arrojada, implementou várias medidas económicas que evitaram o mal maior.”
Na segunda-feira, no arranque da assembleia-geral da ONU, ativistas ambientais participaram num protesto contra Bolsonaro em frente à sede da organização, em Nova Iorque - acompanhados de cartazes com slogans como "Brasil em chamas" e "Sem floresta não há futuro", chamando a atenção para a destruição da Amazónia, que os cientistas dizem ser fulcral proteger para travar as alterações climáticas.
No mesmo discurso, Bolsonaro adiantou que o seu Governo está aberto à possibilidade de adotar a quinta geração de tecnologia de telecomunicações (5G) oriunda "de quaisquer parceiros que respeitem a soberania" do Brasil e que "valorizem a liberdade e a proteção de dados".
Tal parece excluir da lista de potenciais parceiros a chinesa Huawei, numa altura em que o Brasil está a considerar seguir à letra o conselho do Presidente dos EUA, Donald Trump, para que não compre equipamento 5G à Huawei por "questões de segurança".