"Igreja tem a informação" sobre casos de abuso sexual nos arquivos
13-02-2023 - 14:21
 • Rosário Silva , com Renascença

Comissão lamenta os atrasos na autorização por parte do Vaticano para acesso aos arquivos da Igreja, não permitindo um maior aprofundamento, já que esse trabalho só pôde começar a ser realizado em outubro.

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A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal afirma que “a Igreja tem a informação" sobre casos de abuso sexual de menores, as medidas, entretanto tomadas, assim como os intervenientes nos diferentes casos.

É a conclusão divulgada pelo coordenador da Universidade do Minho, que estruturou a equipa que procedeu à consulta dos arquivos eclesiásticos, os quais revelaram que há informação que "tem de ser estudada".

Francisco Azevedo Mendes, que realizou a investigação histórica, sublinha um "desfasamento entre o que são os testemunhos das vítimas e as provas documentais".

Na sua intervenção, o investigador referiu que todas as dioceses do país reportaram casos de abusos de menores, assim como também as congregações religiosas que foram alvo de investigação.

Neste trabalho de investigação, ficou ainda patente por parte dos membros da comissão que os atrasos na autorização por parte do Vaticano para acesso aos arquivos da Igreja, acabaram por não permitir um maior aprofundamento, já que esse trabalho só pôde começar a ser realizado em outubro.

Sobre esta matéria, Pedro Strech, o coordenador da comissão, complementou que “em relação ao domínio publico a única coisa que não figurará é a lista nominal do alegados abusadores ainda vivos”.

A Comissão Independente validou um total 512 testemunhos de abuso sexual na Igreja Católica nas últimas décadas. O número foi avançado por Pedro Strecht, coordenador desta comissão, na apresentação do relatório final, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.

O pedopsiquiatra revelou que "foram recebidos um total de 564 [testemunhos]. Estes testemunhos, como depois iremos explicar com toda a cautela, permitem chegar a uma rede de vítimas muito mais extensa, calculada num número mínimo de 4.815 vítimas", adiantou.

Um total de 25 denúncia foram enviadas para o Ministério Público investigar. Os restantes 95% já prescreveram.

Na apresentação do relatório da comissão, Laborinho Lúcio sugeriu ainda que o tempo de prescrição dos casos comece a contar mais tarde, a partir dos 30 anos da vítima, em vez dos atuais 23.

Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt