O Tribunal Judicial de Évora decretou hoje a prisão preventiva para cinco de seis detidos no âmbito da Operação Cristal, e a obrigatoriedade de apresentações periódicas e proibição de se ausentar do país à outra arguida, segundo fonte judicial.
A Operação Cristal resultou na detenção de oito pessoas, entre elas um português, e na apreensão de uma tonelada (1.000 quilos) de cocaína num veleiro que navegava a norte dos Açores.
Dois dos detidos, tripulantes do veleiro intercetado ao largo dos Açores, já tinham sido presentes às autoridades judiciárias em Ponta Delgada, onde lhes foi decretada a prisão preventiva.
De acordo com fonte judicial, dos seis arguidos ouvidos hoje no Tribunal Judicial da Comarca de Évora, a prisão preventiva foi decretada para os cinco homens do grupo e a obrigatoriedade de apresentações periódicas e proibição de se ausentar do país à única mulher deste grupo de detidos no âmbito da denominada Operação Cristal.
Na segunda-feira foi anunciado que as autoridades portuguesas e espanholas desmantelaram uma rede de narcotraficantes liderada por um cidadão espanhol que foi detido em Lisboa.
Numa conferência de imprensa em Faro para divulgar pormenores da operação, o diretor da Diretoria Sul da Polícia Judiciária (PJ), Fernando Jordão, disse que a investigação começou há três anos pelo Departamento de Investigação Criminal (DIC) de Portimão, tendo culminado agora na Operação Cristal que contou com o apoio da Marinha e Força Aérea portuguesa e do Corpo Nacional de Polícia de Espanha.
"Este foi o primeiro transporte desta organização desde que se fixou em Portugal", disse o diretor do DIC, Alexandre Branco.
A Operação Cristal começou com a interceção a 21 de junho de um veleiro de 14 metros, pelos fuzileiros do Destacamento de Ações Especiais da Marinha a cerca de 200 milhas náuticas (cerca de 316 quilómetros) a norte dos Açores.
A embarcação acabou por afundar-se, já depois de os tripulantes e a droga terem sido transferidos para um navio da Marinha.
Além da detenção dos dois tripulantes do veleiro, foram feitas buscas domiciliárias em diversos lugares em Portugal, tendo sido detidos mais seis suspeitos. .
Foi igualmente apreendida uma embarcação de recreio a motor no Algarve que servia para apoio e para o transbordo da droga, três viaturas, diverso equipamento sofisticado de comunicações, documentação relevante para a investigação, uma "significativa quantidade em numerário", várias "wallets" de criptomoeda e joalharia e relojoaria "de elevado valor". .
As autoridades não revelaram nomes nem a idade dos detidos, mas avançaram que o líder era um espanhol que se mudou há algum tempo de Espanha para Portugal e vivia entre Lisboa e o Algarve, acabando por ser detido na capital portuguesa.
O inspetor da Brigada de Investigação do Crime Organizado da Polícia Espanhola, Luís (autoridades espanholas não revelam o apelido por razões de segurança), afirmou que o cabecilha dos narcotraficantes é "muito conhecido e com antecedentes" no país vizinho. .
Segundo um comunicado da PJ, face à natureza e relevância da situação tinha sido criada uma equipa de investigação conjunta, entre a PJ e a Brigada de Investigação do Crime Organizado do Corpo Nacional de Polícia espanhola, ao abrigo do Eurojust, no contexto da cooperação judiciária e policial com as autoridades de Espanha e com a Europol.
Esta equipa conjunta contou também com a colaboração do Maritime Analisys and Operations Centre -- Narcotics (MAOC-N).
Os suspeitos, de diversas nacionalidades, nomeadamente, europeias e sul-americanas, entre os quais estão pelo menos um espanhol e um português, têm antecedentes policiais e judiciais por crimes de tráfico de estupefacientes, branqueamento e associação criminosa. .
O inquérito é tutelado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Évora.