As famílias portuguesas contraíram mais empréstimos no ano passado depois de um recuo em 2014, segundo o boletim estatístico da Deco.
Quem pediu ajuda à associação de defesa do consumidor tinha, em média, cinco créditos para pagar, quando em 2014 tinha quatro. Mas há quem tenha 20 empréstimos para pagar.
O crédito ao consumo e os cartões de crédito contribuíram para este aumento, explica à Renascença Natália Nunes, coordenadora do gabinete de apoio ao sobreendividado da Deco.
“Ao contrário daquilo que se verificou em 2014, que em média existiam quatro créditos por família, em 2015 verificámos que as famílias passaram a ter cinco créditos em média, sendo que o aumento se verificou essencialmente por via do crédito pessoal e de cartões de crédito.”
Três quartos do salário para pagar empréstimos
Outro sinal que indica que as famílias estão a gastar mais tem a ver com a taxa de esforço, que subiu quatro décimas, para 77%.
Natália Nunes fez as contas. “Estamos a falar aqui de famílias que, em regra, têm dois salários mínimos nacionais, portanto estamos a falar de famílias com rendimentos líquidos mensais de 1.000 euros, em que mais de 700 euros são absorvidos pelo crédito”.
Segundo a Deco, a taxa de esforço não deveria ultrapassar os 40% do rendimento mensal.
Ainda de acordo com o mesmo boletim, são os trabalhadores do sector privado aqueles que têm mais dificuldades em cumprir com as suas obrigações financeiras. Só depois surgem os desempregados e em terceiro lugar os reformados.
“É o sector privado que tem estado a sofrer mais cortes no seu orçamento familiar, mas não cortes formais, seja por via do peso, da carga fiscal, seja por via da redução de rendimentos que teve até, porque teve uma situação de desemprego e agora já conseguiu voltar para o mercado de trabalho. Mas aquilo que estamos a verificar é que, quem consegue voltar ao mercado de trabalho, o está a fazer de uma forma muito precária muitas vezes recebendo apenas o salário mínimo nacional e com contrato a termo”, sublinha Natália Nunes, em declarações à Renascença.
Apenas 9% das famílias em condições para reestruturar dívidas
Dos 29.056 pedidos de ajuda, que em 2015 chegaram ao gabinete de apoio ao sobre endividado, só 2.700 famílias tinham condições para reestruturar as suas dívidas, o equivalente a 9,3%, valores que não sofreram alterações face a 2014.
O boletim estatístico da Deco alerta para outra questão o facto de as entidades de crédito não responderem aos pedidos de ajuda os clientes em risco de incumprimento e deixarem arrastar os processos.
De acordo com a associação, “cerca de 56% dos consumidores procuraram renegociar os seus contratos de crédito directamente com as entidades credoras” ainda antes do primeiro incumprimento, mas “apenas 24% obtiveram resposta”.
Na maioria dos casos a legislação não está a ser aplicada, nomeadamente o Plano de Acção para o Risco de Incumprimento (PARI).
No caso de quem já deixou de pagar os empréstimos, “57% dos consumidores alegam que receberam correspondência por parte das entidades credoras, a fim de solicitar documentação para efectuar uma avaliação financeira integrada” no Plano Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento (PERSI).
Este diploma tem como objectivo facilitar a obtenção de um acordo entre o consumidor e a instituição de crédito para regularização de situações de incumprimento, evitando o recurso aos tribunais.
No entanto, sublinha a Deco, “perante um diploma que exige a integração de todos os consumidores em incumprimento, 43% não foram integrados”.