Os autarcas de Sesimbra, Palmela e Setúbal preparam nova carta para enviar ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro. Em causa está o encerramento durante uma semana da urgência pediátrica do Hospital São Bernardo.
A revelação é feita pelo presidente da Câmara de Sesimbra. Francisco Jesus explica que os três autarcas têm já “enviado um conjunto de missivas” e têm tido “um conjunto de reuniões”, num esforço que tem sido coordenado mais pelo “colega de Setúbal, pela proximidade e pela dimensão do concelho”.
“Ainda hoje já falamos também os dois e com o meu colega de Palmela e com certeza que vamos novamente enviar uma comunicação ainda durante o dia de hoje, assinada e subscrita pelos três, dando conta desta insatisfação”, explica.
Em causa está a ausência de resposta perante o encerramento das urgências pediátricas do Hospital de Setúbal. A autarquia de Sesimbra queixa-se de não ter sido avisada e considera que a alternativa para as crianças que vão precisar de urgência não é clara.
“Se me perguntar hoje qual é que vai ser o destino deste conjunto de pais e mães e de agregados familiares, sobretudo das crianças, durante este período, eu não sei responder. Admito, em tese, que provavelmente o Garcia da Orta que tem já as dificuldades que vocês jornalistas reconhecem também ao longo dos últimos tempos”, arrisca dizer.
A Urgência Pediátrica do Hospital de São Bernardo está encerrada desde as 9h00 desta terça-feira, devido à falta de médicos, e só deverá reabrir às 9h00 de segunda-feira da próxima semana, dia 12.
Mais de 50% da população sem médico de família
Francisco Jesus refere-se a “uma degradação brutal daquilo que é o nosso Serviço de Saúde”, sobretudo ao nível dos cuidados primários.
“Temos a funcionar três unidades de saúde familiar, uma em cada uma das freguesias. Na freguesia mais populosa, que é Quinta do Conde, mais de 50% da sua população nem sequer neste momento tem médico de família”, explica. O autarca acrescenta que, mesmo a que unidade de saúde familiar que ali funciona “nem sequer tem funcionamento entre as 8h00 e as 20h00.
“A informação que vamos tendo, sobretudo dos utentes, é que muitas vezes, mesmo em situação mais aguda, as próprias Unidades de Saúde Familiar não têm capacidade de resposta, face ao volume de situações que têm durante o dia, ou seja conseguem fazer marcações de um dia para o outro, em situações de urgência, mas não consegue muitas vezes fazer atendimento no próprio dia”, explica.
Sem resposta nos cuidados de saúde primários, muitos recorrem às urgências hospitalares que, no caso de Sesimbra, também são insuficientes.
“Mesmo existindo as urgências, é sempre uma preocupação porque Sesimbra, naquilo que é a sua resposta de saúde primária, não tem meios de diagnóstico, sempre que é uma situação de doença ou de emergência mais aguda, que não seja mera observação por parte do médico, já era necessária uma deslocação ao hospital de referência que, neste caso, era o hospital de São Bernardo”, descreve.
“Neste momento, a situação é ainda mais dramática. Sesimbra está a cerca de 30 quilómetros de Setúbal, os meios de transporte públicos ainda hoje apresentam deficiências, num período que temos também de pico numa série de doenças. É um constrangimento brutal para as famílias de Sesimbra e que não vão conseguir encontrar resposta”, critica.