O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros (MNE) garante não ter sido informado das suspeitas ou da investigação ao tráfico de droga, diamantes e ouro que envolvem militares portugueses que estiveram na República Centro Africana.
Depois de o Presidente da República ter dito que não foi informado do caso - comunicado à ONU no ano passado - também Augusto Santos Silva assume à Renascença que só teve conhecimento através da comunicação social. “[Soube] ontem, de manhã, ao chegar a Coimbra onde ia participar numa conferência da AICEP. No caso, como ia de carro, foi mesmo pela rádio.”
Contudo, acrescenta que não o tinha que ser. “As missões internacionais são analisadas em Conselho Superior de Defesa Nacional e os aspetos de política externa, relacionados com as missões internacionais, são trabalhados pelo ministro dos Negócios Estrangeiros em conjunto com o ministro da Defesa Nacional. Nada disso se refere a investigações judiciais”, explica à margem da Conferência geral da UNESCO, onde vai ser apresentado o novo relatório mundial sobre os futuros da educação coordenado pelo embaixador português Sampaio da Nóvoa.
É retomado, esta manhã, o interrogatório dos 11 arguidos detidos na “Operação Miríade”.
Entre os detidos pela Polícia Judiciária estão militares, ex-militares, nomeadamente Comandos, um agente da PSP – do comando metropolitano de Lisboa –, um guarda da GNR em formação e um advogado.
No entanto, fonte ligada ao processo adiantou à Lusa que da rede criminosa fazem ainda parte várias dezenas de pessoas e cerca de 40 empresas, algumas que funcionavam como “fachada” para os negócios.
Em causa está a investigação a uma rede criminosa com ligações internacionais que “se dedica a obter proveitos ilícitos através de contrabando de diamantes e ouro, tráfico de estupefacientes, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas”, com vista ao branqueamento de capitais.
Em comunicado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) revelou que alguns militares portugueses em missões da ONU na República Centro-Africana podem ter sido utilizados como "correios no tráfego de diamantes”, adiantando que o caso foi reportado em dezembro de 2019.