Putin diz que Rússia sabe o que fazer, como fazer e a que custo para vencer na Ucrânia
18-03-2022 - 14:56
 • João Carlos Malta com Reuters

Esta sexta-feira, num discurso para assinalar os oito anos de anexação da Crimeia, Vladimir Putin dirigiu-se a milhares de russos num estádio de futebol, em Moscovo. Discurso foi interrompido na televisão estatal.

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O Presidente russo, Vladimir Putin, aproveitou um comício num estádio de futebol lotado nesta sexta-feira, em Moscovo, para justificar a invasão da Ucrânia. Prometeu a dezenas de milhares de pessoas que erguiam bandeiras russas que todos os objetivos do Kremlin vão ser alcançados.

"Sabemos o que precisamos fazer, como fazê-lo e a que custo. E cumpriremos por completo todos os nossos planos", disse Putin no Estádio Luzhniki, em Moscovo, num evento que comemora a anexação da Crimeia, região do sul da Ucrânia, em 2014.

Na mesma ocasião, Vladimir Putin aproveitou para elogiar os soldados russos e o espírito de unidade do exército que, na opinião do chefe de estado da Rússia, simboliza o sentimento do povo.

"Ombro a ombro, eles ajudam-se, apoiam-se e, quando necessário, protegem-se das balas com o próprio corpo como se fossem irmãos. Não tínhamos esta união há muito tempo", disse.

Putin garantiu que a operação na Ucrânia foi necessária porque os Estados Unidos estavam a usar aquele país para ameaçar a Rússia. O Presidente russo voltou a argumentar que a invasão do país vizinho tem como motivo defender do "genocídio" as pessoas de língua russa que vivem na Ucrânia.

A Ucrânia desmente o argumentário russo e diz que está a lutar pela sobrevivência, reiterando continuadamente que as alegações de genocídio são um absurdo. Já o Ocidente contrapõe que as a ideia de que quer destruir a Rússia é apenas ficção.

O palco em que Putin falou foi decorado com slogans como: "Por um mundo sem nazismo" e "Para o nosso presidente", usando o "Z" - letra que simboliza a operação militar na Ucrânia.

Transmissão interrompida

Este é um evento que decorre anualmente e tem um pendor altamente nacionalista. Durante o discurso de Putin, a transmissão do canal estatal russo foi interrompida, e as palavras do Presidente substituídas por músicas patrióticas.

O porta-voz do Kremlin justificou a situação com uma falha técnica.

Oito anos depois de tropas russas tomarem a região da Crimeia, no sul da Ucrânia, a Rússia assinala e comemora a data com multidões a agitar bandeiras no estádio que ainda há bem pouco tempo era palco de jogos do campeonato do Mundo de futebol.

O governo russo está a promover aulas especiais nas escolas, em que reforça uma visão patriótica e nacionalista dos eventos que decorreram na Crimeia em 2014.

O Ministério da Educação enviou planos curriculares especificamente voltados para o 18 de março, data em que a Rússia anexou a Crimeia após um referendo internacionalmente desacreditado.

De acordo com um memorando enviado às escolas pelo Ministério da Educação, as aulas devem-se concentrar em "heróis do nosso tempo... e no patriotismo".

Há relatos citados pela BBC de que os funcionários do estado teriam sido forçados a participar neste evento no estádio Luzhniki. Nas escolas, os professores estão a dar aulas em que assinalam aquilo que apelidam de "primavera da Crimeia".

O exército russo usou as bases na Crimeia para tomar vilas e cidades na costa sul da Ucrânia, durante a invasão que começou no final de fevereiro.

Uma aluna no exterior do estádio, citada pela BBC, quando questionada sobre o motivo pelo qual ali estava disse: "Eles colocaram-nos no autocarro e trouxeram-nos".

As aulas sobre a guerra começaram na Rússia no início de março com o título "O meu país". Os alunos assistiram a um vídeo de Putin a 21 de fevereiro, no qual este detalhava a visão da história da Ucrânia.

No início desta semana, foram também publicadas fotografias de crianças a fazer uma fila para formar a letra Z, o símbolo pintado nos veículos militares russos que invadiram a Ucrânia.

Os alunos foram ainda ser convidados a sentar-se em círculo para ouvir a explicação de como as ideias de "dever, dignidade e patriotismo estão intrinsecamente ligadas aos conceitos de grandes feitos e heroísmo".

Num outro vídeo enviado às escolas com a versão russa dos eventos em torno da anexação da Crimeia, dois adolescentes vestidos com uniforme são questionados se sabem o que aconteceu no dia 18 de março de 2014.

Um diz que para ele, como morador de Sebastopol na Crimeia, foi um dia de festa, quando a "Primavera da Crimeia" chegou.

Outra adolescente, Anna, é questionada por que os eventos são conhecidos como Primavera: "Marca o início de uma nova vida. É renovação, calor, sol. E claro, um lar aconchegante".