Foi ministro em dois governos do PSD, líder da bancada social-democrata e vice-presidente da Assembleia da República. Há mais de 20 anos que Fernando Negrão é deputado, mas esta será a última vez.
Não foi incluído nas atuais listas do PSD para as eleições legislativas de 10 de março e confessa não saber qual o motivo para isso. No entanto, como está a dois anos de completar os 70, vê na situação atual o caminho para a reforma. Se se vai manter ativo na política depois de reformado, isso logo decidirá.
Sobre o futuro do seu partido, deseja que o PSD obtenha o melhor resultado possível nas eleições, já que considera que o país não pode continuar a ser governado pelo Partido Socialista. Para solução de governo, e de forma a garantir estabilidade governativa, gostava de ver o PSD coligar-se com a IL, embora defenda que a porta para um acordo com o Chega tem de estar fechada.
Já para Luís Montenegro, caso a AD perca as eleições e não seja possível ter maioria para governar (sem o apoio do Chega), o único caminho que vê para o líder é abandonar o partido.
Entrou a primeira no parlamento em 2002. Foram muitos anos como deputado. Há alguma razão para não integrar este ano as listas do PSD?
Que eu saiba, não há nenhuma razão explicada para isso, mas enfim, a direção sabe como agir e agirá dessa forma.
E compreende o porquê de não estar?
Já há dois anos, numa entrevista a uma rádio, terei dito que iria deixar política a curto prazo. Portanto, não foi nessa altura, foi agora.
Não estando nas listas, vai manter-se ativo na vida do partido?
Sabe que eu estou à beira dos 70 anos. Faltam 2 anos para ter 70 anos. Hoje, ter 70 anos não é o mesmo que ter esta idade, obviamente, há 20 ou 30 anos, mas é essa a idade que tenho e vou tratar dos papéis para me reformar. Nessa altura, ponderarei a possibilidade de ter alguma intervenção política, ou não.
E o que espera do PSD nas próximas eleições de 10 de março?
Espero que o PSD consiga-se afirmar como uma verdadeira alternativa ao PS. E quando eu digo que é uma verdadeira alternativa ao PS, é porque neste momento, mais do que nunca, o país não pode continuar a ser governado pelo Partido Socialista. O Partido Socialista destruiu o Estado Social em Portugal e não é preciso dizer mais nada. Tenho a certeza de que, à semelhança de outros primeiros-ministros do PSD, este PSD reconstruirá o Estado social e constituirá de facto uma alternativa ao PS.
Portanto, é essa a minha esperança. É nisso que acredito embora esteja consciente de todas as dificuldades e problemas do atual quadro partidário.
Há uma tese no partido de que o PSD só deve governar no caso de uma vitória da Aliança Democrática, ou seja, sem outras coligações. Concorda que se deve cumprir esta ideia? O PSD deve governar apenas se vencer com a Aliança Democrática?
Não, porque olho para o quadro partidário e vejo outro partido com o qual não me parece que haja problemas de maior para acrescentar à Aliança Democrática, que é a Iniciativa Liberal. Portanto, poderá alargar-se a coligação à Iniciativa Liberal e, nesses termos, ter uma capacidade de intervenção superior.
Apenas à Iniciativa Liberal, mais nenhum outro partido?
Sim, não vejo mais nenhum que seja compatível, nem minimamente compatível, com aquilo que é o projeto do PSD - agora com o projeto da AD.
Acredita que este projeto da Aliança Democrática tem capacidade para conseguir uma maioria?
Acredito que tem com a Iniciativa Liberal, e acredito que tem, porque os portugueses têm consciência daquilo que aconteceu ao país e daquilo que continua a acontecer no país... Nos hospitais, nas escolas e nas salas de audiência dos tribunais... E sabe que o PS, durante 8 anos, não levou a cabo uma única reforma no nosso país, limitou-se a gerir o país ao sabor dos interesses do PS e dos seus dirigentes.
Portanto, o Chega nunca entraria nestas contas?
Na minha perspetiva, não. Daquilo que tenho ouvido por parte do PSD, designadamente por parte do próprio presidente do PSD, é que o Chega não deve entrar nestas contas.
No caso de uma não vitória a 10 de março, Luís Montenegro deve colocar o lugar à disposição. Deverá o PSD partir para novas eleições internas?
Não tenho a certeza, mas quase que diria que sim. O próprio Luís Montenegro já terá dito que não constituiria governo com o Chega. Portanto, se essa probabilidade ocorrer, a consequência lógica dessa afirmação é que se afastará do partido.