Eduardo Catroga não tem dúvidas: só um acordo entre Passos Coelho e António Costa permite uma solução de governabilidade estável. Em declarações à Renascença no dia em que ambos os líderes voltam à mesa das negociações, o antigo ministro das Finanças de Cavaco Silva admite que o líder socialista pode ficar numa situação “muito difícil” caso não tenha abertura para dialogar com Passos Coelho.
Catroga fala mesmo de “jogo perigoso” e “metodologia negocial incorrecta” por parte de António Costa, ao não excluir a formação de um governo com Bloco de Esquerda e PCP, quando “nem sequer devia pôr em causa a coligação vencedora das eleições”.
“António Costa tem agora uma oportunidade de demonstrar que é um líder à altura de Mário Soares”, diz.
Costa mais desconfortável que Passos
Se é verdade que, em 41 anos de democracia, tem recaído sobre o partido mais votado a responsabilidade para formar governo, a Constituição permite outros cenários que atendam à realidade parlamentar.
A 4 de Outubro, PSD e CDS juntos obtiveram maioria relativa, mas, face à expressão eleitoral da esquerda, são insuficientes para aprovar leis, logo para governar.
Eduardo Catroga sublinha, no entanto que, ao não excluir um governo com Bloco e PCP, “António Costa está a depender de partidos da esquerda dura e de oposição ao PS. É uma posição muito mais desconfortável do que a posição teórica de Pedro Passos Coelho”.
E continua: “O Partido Socialista é um partido europeu, portanto todos os compromissos que assume são no quadro da União Europeia e da Zona Euro, ao contrário do que acontece com os partidos à esquerda do PS”.
Daí que eventuais compromissos entre Passos e Costa estejam à mercê de “um ou outro retoque” de ambos os lados, mas “sem falhar no essencial”. E o essencial para Catroga é que, no fim de contas, “os mercados financeiros não percepcionem risco". "Seria muito mau para a economia e para a sociedade portuguesa se, de um momento para o outro, as taxas de juro começassem a subir, com prejuízo grave para as famílias e para as empresas”.
E conclui, esperando que “o bom senso prevaleça”. O mesmo é dizer, para Eduardo Catroga, “um entendimento entre PS e PSD”.
Coligação ou incidência parlamentar? Tanto faz
Já quanto à fórmula de um eventual entendimento entre Passos Coelho e António Costa, Eduardo Catroga diz que é indiferente: coligação ou acordos de incidência parlamentar, qualquer das soluções serve para alcançar os consensos necessários.
“As duas alternativas estão sempre em aberto. O que é fundamental é que os partidos estejam receptivos aos apelos do Presidente da República que pede entendimentos no sentido da estabilidade”.
Eduardo Catroga recorda que “já em Julho de 2013 [PSD e PS] estiveram quase à beira de um acordo de médio prazo sobre algumas questões estratégicas relevantes para a economia e para a sociedade". O acordo "acabou por ser rejeitado por uma facção dentro do Partido Socialista”.
O antigo ministro espera que “esta nova oportunidade de acordo não seja inviabilizada por razões meramente ideológicas”.