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Daqui até setembro faltam quatro meses. A organização da festa do Avante está a decorrer e os comunistas dizem-se "empenhados" na realização dos três dias que marcam o regresso do PCP após a pausa de verão. Mas a proibição dos festivais de verão até setembro veio lançar a incerteza sobre a tradicional rentrée do PCP e dentro do partido já se vai desdramatizando a possibilidade de este ano não haver Avante ou ter de ser feito em moldes muito diferentes.
Os comunistas ainda estão a analisar a proposta de lei que, entretanto, chegou ao Parlamento e guardam uma posição final para mais tarde. Mas já há certezas: se houver, não será uma festa igual às de outros anos e não querem que seja criada uma exceção especial para a iniciativa.
É um evento muito acarinhado pelo partido, há militantes que tiram férias de propósito para montar toda a estrutura na Quinta da Atalaia, em plena baía do Seixal. Ainda há uma semana, o partido tinha feito um comunicado a anunciar em que pretendia fazer. Mas, agora, também já se prepara para dizer que, se este ano os comunistas tiverem de a cancelar, também não virá mal ao mundo.
Um elemento do Comité Central do partido refere à Renascença que "não é a primeira vez que não há festa", lembrando que em 1987 não se realizou porque pura e simplesmente não foi possível "encontrar espaço", muito devido às dificuldades levantadas pelas autarquias, nomeadamente de Lisboa.
Ou seja, o PCP valoriza a enorme importância da festa, mas em plena pandemia "não é um drama não haver", com aquele dirigente nacional a reconhecer que a realização do Avante nas actuais circunstâncias "não é fácil" e que "mesmo realizando-se", não será possível "ver uma festa igual à do ano passado".
A grande questão vai ser como interpretar a proposta de lei que já deu entrada no Parlamento e que "estabelece medidas excecionais e temporárias de resposta à pandemia da doença Covid-19 no âmbito cultural e artístico, festivais e espetáculos de natureza análoga", cancelando estes eventos até 30 de Setembro.
É precisamente esta última expressão, "espetáculos de natureza análoga" - que, de resto, surgiu numa versão corrigida do comunicado do Conselho de Ministros desta quinta feira - que os comunistas admitem que "pode mesmo abranger a festa" e, por isso, vai ser preciso "mastigar isto e tomar uma posição".
Segundo aquele dirigente nacional comunista "se calhar, com a nova redação, e independentemente do nome, a festa [do Avante] é mesmo análoga" aos festivais de verão, obrigando ao seu cancelamento.
Os comunistas, de resto, não estariam à espera que as restrições aos espectáculos se prolongassem para lá de julho ou agosto e que "abrangessem o verão todo", até ao fim de Setembro. Agora, resta ler bem a proposta de lei e "ir pensando em tomar uma posição".
O partido também vê com muita reserva que o governo crie uma eventual excepção para a festa do Avante. Primeiro, porque "o governo não quer ficar debaixo de fogo ao excepcionar a festa", e, segundo, "depois do 1.º de Maio as pessoas não iam aceitar uma exceção destas ".
Depois da enorme polémica que envolveu a ação da CGTP na Alameda Afonso Henriques, em Lisboa, no Dia do Trabalhador, os comunistas querem evitar a todo o custo serem o alvo das críticas por causa de três dias de festa que envolve milhares de pessoas em que é difícil o exigido distanciamento social.
Há, portanto, toda uma série de incertezas a envolver os próximos meses por causa da pandemia, com o mesmo elemento do Comité Central do PCP a reconhecer que "ninguém sabe ao certo como vai ser o verão, se vai haver segunda vaga" de Covid-19.
É que, mesmo que a festa se realize, "será sempre diferente". Implicaria "essas regras todas de higiene, exigentes de organização e isto obriga a algumas coisas". Por exemplo, nas diversas zonas de restauração, com "copos, tabuleiros" e tudo isto "obriga a repensar as coisas".
Outro exemplo, seria o espaço internacional, onde estão os pavilhões e restaurantes dos convidados estrangeiros. Realizar a festa nestas condições implicaria "ter menos convidados".
Resumindo, "não é fácil" e os comunistas colocam ainda a questão de que há "também que ter em conta o receio das pessoas em ir à festa" em plena crise sanitária, sendo que "a festa não passaria ao lado deste problema".
Nas semanas a seguir ao Avante, sobretudo ao fim-de-semana, é comum os comunistas organizarem comícios ao ar livre, muitas vezes em pinhais pelo país fora, mas aí não há problema, admite o dirigente comunista, "os comícios são mais fáceis de realizar, mas a festa é outra coisa".
Até ao fim do ano os comunistas têm de resolver como organizar outro evento igualmente importante: a realização do Congresso que vai eleger a liderança do partido e que está previsto para os dias 27, 28 e 29 de Novembro, no Pavilhão Paz e Amizade em Loures, concelho onde o PCP preside à autarquia.
Também o Congresso está em aberto. Segundo aquele dirigente nacional comunista "depende do estado" em que o país estiver. Ou seja, se voltar a estar ativo o "estado de emergência ou se a doença recrudescer dificilmente se pode fazer uma iniciativa com aquela logística", rematando: "Também somos pessoas."