Fechar de vez o ciclo infernal de polémicas que envolvem o PS e o Governo, que nos últimos meses se acentuou com as audições na comissão de inquérito à gestão da TAP, e centrar as atenções no ciclo económico, que demora a entrar no debate público.
É com este objetivo que os deputados socialistas se deslocam durante três dias à Madeira, para umas jornadas parlamentares em ano de eleições regionais no arquipélago, mas com a mira apontada ao crescimento da economia.
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, o líder parlamentar do PS admite que o partido está a entrar numa "fase de lançamento de uma avaliação sobre o estado da Nação" e que estas jornadas servem precisamente como antecâmara do debate que marca o encerramento da sessão legislativa marcado para 19 de julho.
Na Madeira, os deputados do PS vão "vincar e contrastar os aspetos que levaram a que durante este ano a economia crescesse, o desemprego diminuisse, as exportações atingissem um valor record", resume Eurico Brilhante Dias.
Os socialistas querem começar a desfazer a tese de que a economia está a correr bem, mas o dinheiro não está a chegar ao bolso das pessoas, argumento que o Presidente da República usou recentemente, referindo que o país vive uma "dupla realidade", em que os "números gerais" da economia são bons, mas a "projeção dos números nas famílias demora tempo".
Jornadas antes do regresso de Pedro Nuno Santos ao Parlamento
Na ressaca desse espinho que constitui a comissão de inquérito à gestão da TAP, o PS ignora por completo esse tema nestas jornadas, com Brilhante Dias a optar por fazer o "balanço da sessão legislativa" a "análise do estado da Nação, para perspetivar uma segunda sessão de crescimento económico e prosperidade económica".
Um "balanço da sessão legislativa" que não deverá, contudo, servir para os socialistas se sentarem no divã a remoer naquele que foi o ano frenético e encharcado de casos e casinhos em torno de diversos governantes, à cabeça o ministro João Galamba e o ex-ministro Pedro Nuno Santos.
De resto, as jornadas na Madeira acontecem uma semana antes do regresso de Pedro Nuno ao Parlamento, que está previsto para 4 de julho. Os socialistas evitam assim que o ex-ministro das Infraestruturas se torne o centro das atenções antes de tempo.
A ideia da direção da bancada não é, de todo, hostilizar o ex-governante e, como a Renascença já tinha avançado, deverá mesmo ter espaço garantido "numa ou duas comissões" parlamentares, falta saber quais.
Ministros da Economia e do trabalho falam sobre salários. E ex-líder da UGT também
Estas jornadas parlamentares na Madeira irão servir para visitar investimentos que têm o dedo do Governo, mas sobretudo o da República. Os deputados irão visitar o novo Hospital Central e Universitário, que Brilhante Dias faz questão de lembrar que é "uma das grandes decisões da Assembleia da República, cofinanciada com a iniciativa do Grupo Parlamentar do PS e decisão do Governo com recursos da República".
Os socialistas dão como praticamente perdidas para Miguel Albuquerque as eleições regionais deste outono, resta saber que maioria terá o PSD, com Eurico Brilhante Dias a referir apenas que os "camaradas do PS na Madeira estão a enfrentar um embate eleitoral importante" e que os deputados da República regressam ao Funchal "muitos anos" após a última vez.
Logo no arranque das jornadas, este domingo, os deputados irão contar com um jantar onde estará presente e vai intervir o secretário-geral do partido e primeiro-ministro António Costa, que se tem esquivado a responder quer às perguntas dos jornalistas, quer aos deputados, após a polémica deslocação não prevista a Budapeste.
Presentes nas jornadas estarão, no mesmo painel, os ministros da Economia e do Trabalho, que irão intervir sobre "Salários e apoios às empresas", em que estará também presente o ex-secretário-geral da UGT, Carlos Silva.
A relação de Carlos Silva com a atual direção do PS de António Costa nunca foi propriamente a melhor, sendo que, por diversas vezes, o antigo dirigente sindical se queixou da prioridade que o primeiro-ministro deu ao diálogo com a CGTP em detrimento da UGT.
Questionado se este PS de António Costa já fez as pazes com Carlos Silva ao ponto de o convidar para umas jornadas, após a sua saída da direção da UGT, Eurico Brilhante Dias foi seco: "O PS não tem problemas com os seus militantes, seja o Carlos Silva ou outro", acrescentando que os deputados vão "falar de crescimento e coesão" e que para intervir sobre isso um ex-secretário-geral da UGT "é o indicado".
O líder parlamentar quer ainda falar de "coesão social e territorial", mas sem a ministra que tutela essa área. Ana Abrunhosa não irá juntar-se aos ministros António Costa Silva e Ana Mendes Godinho na Madeira.