Há um ano, Carmen Dolores lançou as suas memórias. “Vozes dentro de mim”, editado pela Sextante, foi o livro que serviu de inspiração ao ator e encenador Diogo Infante para criar o espetáculo que agora sobe ao palco do Teatro da Trindade em Lisboa. “Carmen” é uma peça biográfica que tem coprodução do Teatro Meridional, em coapresentação com o Festival de Almada
Em palco, o monólogo é protagonizado pela atriz Natália Luiza, que regressa aos palcos para revisitar algumas das personagens que marcaram a vida e a carreira de Carmen Dolores.
Em entrevista à Renascença, Diogo Infante explica que percebeu que “a história da Carmen se cruzava com o próprio Trindade” e isso levou o também diretor da instituição de teatro a dar o nome da atriz à sala principal. “Não se achou merecedora”, explica Infante, rematando que “a Carmen é uma mulher muito humilde e discreta”.
A peça, assevera, “é uma oportunidade de celebrarmos a vida em torno de uma mulher singular”. O encenador quer ver o público partilhar “esta memória coletiva” da história do teatro em Portugal. Numa pausa dos ensaios para conversar com a Renascença, Diogo Infante diz que "muitas das vozes" que estão no espetáculo “são vozes das personagens” que a atriz de origem espanhola representou. “Algumas personagens vêm cá reclamar”, descreve, isto porque, “na opinião da Carmen, obviamente” há personagens nas quais “ela podia ter feito mais e melhor”.
Mas nem só de personagens de teatro é feita esta peça. Há também vozes anónimas, “do passado, dos entes queridos que assaltam” Carmen Dolores. No palco estão “anseios, temores, ansiedades, mas sempre numa perspetiva positiva”.
“É uma lição de vida”, conclui Diogo Infante enquanto recorda que Carmen Dolores tem hoje 94 anos. “Um feliz reencontro” é como descreve este momento em que volta a trabalhar com Carmen Dolores e Natália Luiza, com quem representou em 1992 no Teatro Experimental de Cascais a peça “Espectros” de Ibsen, com encenação de Carlos Avilez. A “amizade e cumplicidade que duram até hoje”, sublinha Infante, têm permitido este “ato de amor e celebração partilhada” patente na peça agora em cena no Teatro da Trindade.
O novo diretor do Teatro da Trindade refere que sempre se deixou levar “pelos afetos”. É assim que também pensa a programação desta sala de espetáculos da Fundação Inatel. Diogo Infante admite que a gestão do teatro tem as suas exigências, mas diz que sente “uma profunda urgência em fazer determinadas coisas” e que o projeto “Carmen” é exemplo disso, de um certo “sentido de missão” para o teatro.