Bastonário dos psicólogos diz que não bastam medidas simbólicas da Igreja para as vítimas
03-03-2023 - 22:21
 • Lusa

Segundo Francisco Miranda Rodrigues, a capacidade para ajudar algumas das vítimas é demasiado limitada perante o trauma dos abusos sofridos no passado. "São precisas mais do que medidas simbólicas", assinalou o bastonário.

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O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) defendeu hoje que não bastam "medidas simbólicas" da Igreja Católica para responder às vítimas de abusos sexuais cometidos por padres ou elementos de outras estruturas ligadas ao clero.

Em declarações à Lusa após a conferência de imprensa dos bispos sobre as medidas de resposta ao relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, Francisco Miranda Rodrigues reconheceu a importância do apoio psicológico e psiquiátrico às vítimas anunciado pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o bispo José Ornelas, mas avisou que pode não chegar a ser uma solução.

"É muito difícil percebermos como é que se consegue, sequer, sentir minimamente, dar algum significado e ultrapassar este tipo de situações, pelo que devemos entender como aceitável que, para as vítimas, aquilo que possam encontrar de resposta ao que foi o sofrimento que lhes foi infligido seja difícil de ser suficiente para fazer face à perda. Em algumas dimensões é já muito dificilmente reparável", referiu.

Segundo Francisco Miranda Rodrigues, a capacidade para ajudar algumas das vítimas é demasiado limitada perante o trauma dos abusos sofridos no passado. "São precisas mais do que medidas simbólicas", assinalou o bastonário, assegurando que a Ordem "nunca foi contactada pela Igreja" sobre este tema e que o mais importante é garantir às vítimas a liberdade de escolha relativamente ao apoio psicológico desejado.

"Devemos aceitar que a apresentação desta ou daquela medida -- e algumas são medidas simbólicas - possa, por si só, ter um impacto generalizado para a maior parte das vítimas e poder com isso fazê-las, de alguma forma, sentir que o seu sofrimento fica mitigado ou que está a ser feito algum tipo de justiça ou reconhecimento proporcional àquilo que sentiram", acrescentou Francisco Miranda Rodrigues. .

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.

Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.

Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.


Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt