Fernando Feijão e José Pinto Gomes, ambos de 66 anos, contrariam o envelhecimento ativamente, mantendo a prática desportiva regular, muitas vezes em competição.
O atual presidente da Federação Portuguesa de Orientação, Fernando Feijão, pratica há 30 anos triatlo, modalidade na qual liderou a federação nacional, mantendo as rotinas de treino, uma a duas vezes por dia, alternando entre os segmentos de atletismo, ciclismo e natação.
“Eu já fazia atletismo, pontualmente também fazia BTT e o triatlo surgiu naturalmente. Aprendi a nadar e comecei a fazer triatlo”, recordou Fernando Feijão, em entrevista à agência Lusa.
“Para a preparação do campeonato da Europa estive nos estágios com os atletas da seleção nacional e a diferença é grande. Não tenho o nível deles, mas faço o treino normalmente”, admitiu José Pinto Gomes.
Apesar dos esforços, a idade pesa. “Eu não me posso comparar a um jovem de 20 anos”, frisou Feijão.
O médico Henrique Jones, especialista em medicina desportiva, advertiu para os riscos do desporto quase a níveis de alta competição em idades mais avançadas.
“A grande preocupação do ponto de vista de traumatologia desportiva é a degradação da cartilagem pelas alterações bioquímicas e mecânicas que, nomeadamente, o joelho, a anca e o tornozelo, sofrem depois de 60 e tal anos de vida”, explicou o antigo médico da seleção portuguesa de futebol.
O também ortopedista alertou para a necessidade de prevenção e tratamento de lesões associadas à competição nestes escalões etários.
“A prevenção deve ser feita durante a sua carreira com protetores e suplementos da cartilagem. Faz parte, também, um bom tratamento, um bom diagnóstico e um regresso adequado à competição”, sublinhou.
Henriques Jones considerou ainda imprescindível o acompanhamento médico da prática desportiva.
“Eu não posso aceitar que alguém que faz desporto com regularidade não seja seguido por um médico: um médico em medicina desportiva, um traumatologista ou um ortopedista e, se isso não for viável, pelo menos uma visita regular ao médico de família, no sentido de fazer uma abordagem clínica sumária”, vincou Jones.
As lesões têm poupado Feijão e Pinto Gomes, que reconheceram não ter o acompanhamento médico desejado.
“Costumo dizer a brincar que se tivesse um bom apoio médico ainda ia aos Jogos Olímpicos”, referiu Pinto Gomes, enquanto Feijão tem uma receita: "quando dói deve-se parar, e é esta filosofia que permite que a carreira se torne mais longa e não se chegue a atingir lesões crónicas”.
Satisfeitos com aquilo que o desporto traz ao seu dia a dia, os atletas manifestam a intenção de continuar a praticar da mesma forma, até que se vejam impedidos de o fazer.
"Vejo-me como um sexagenário que faz exercício físico para poder manter alguma qualidade na mobilidade”, realçou Pinto Gomes.
Por sua vez, Feijão encara a prática desportiva como fulcral na sua vida, apelando a que mais pessoas da sua idade o façam.
“Após tantos anos de desporto e em várias modalidades diferentes, eu acho que já não conseguia viver sem ele. O desporto tem-me dado tudo: amigos, alegrias a todos os níveis e o bem estar”, conclui.
Sem nunca ter sido um atleta de elite na modalidade, Feijão sobe ao pódio regularmente nas competições para o seu grupo de idade. O terceiro lugar no Europeu de duatlo, em março, em Punta Umbria, em Espanha, foi a mais recente conquista, num exemplo do “corolário do treino”, como o próprio reconheceu.
O judoca José Pinto Gomes teve um percurso diferente: foi sétimo nos Jogos Olímpicos Montreal1976, na categoria de -63 kg, e, agora, como veterano, permanece no topo, tendo como prova o título nacional de veteranos de 2020, aos quais associou as presenças nos Europeus e Mundiais do escalão.
“Os veteranos não são muito apoiados, e, portanto, a participação em competições é paga pelos próprios”, lamentou o judoca do Sport Algés e Dafundo, que dedica a manhã ao treino físico e a tarde ao judo, modalidade eleita durante o seu percurso na Marinha.
“Durante o curso comecei a fazer judo, mas eu antes já tinha iniciado a prática da luta greco-romana, com 14 anos. Depois tive alguma facilidade e foi só fazer um ‘transfer’”, contou o mestre, à Lusa.
Ambos mantêm a prática regular, sem pensar num “pico de forma”, mas o judoca olímpico assegurou “treinar o mais possível, sempre com o objetivo de melhorar para ganhar”. Apesar do espírito competitivo, os dois concordam que as prioridades são o bem-estar, associado ao convívio com outros atletas veteranos, nas provas e treinos.