As autoridades sul-coreanas pediram desculpas após a debandada mortal de Halloween em Seul e consideraram "insuficiente" a resposta da polícia, apesar de vários alertas
“[A polícia sabia] que uma grande multidão se reuniu antes mesmo de ocorrer o incidente, dando a ideia de que o perigo era iminente”, reconheceu o chefe da polícia nacional da Coreia do Sul, Yoon Hee-keun.
Chamadas de emergência, feitas várias horas antes do desastre e das quais a agência noticiosa sul-coreana News1 publicou transcrições, já alertavam para o grande número de pessoas presentes no local.
“Há muitas pessoas aqui a ser empurradas, pisadas, feridas. É caótico. Têm de controlar isso”, disse uma pessoa à polícia às 20h09, horário local (11h09 em Lisboa), quase duas horas antes da tragédia.
O chefe da polícia nacional considerou “insuficiente” a forma como esta informação foi tratada.
“Gostaria de aproveitar esta oportunidade para pedir sinceras desculpas ao público por este acidente, como responsável pela segurança pessoal”, disse o ministro do Interior sul-coreano, Lee Sang-min, ao parlamento antes de curvar a cabeça em contrição diante de autoridades eleitas.
Pelo menos 156 pessoas, a maioria jovens, morreram e dezenas de outras ficaram feridas quando uma multidão se juntou na noite de sábado para celebrar a primeira festa do Haloween desde a pandemia que decorreu no cosmopolita distrito de Itaewon, em Seul.
Cerca de 100.000 pessoas eram esperadas, mas devido à natureza não oficial do evento, nem a polícia nem as autoridades locais controlaram ativamente a multidão.
Segunda-feira, a polícia reconheceu que enviou apenas 137 agentes para Itaewon na noite de sábado, enfatizando que esse número foi maior do que o das festas de Halloween em anos anteriores.
Enquanto isso, 6.500 policiais foram mobilizados para outra festa na capital sul-coreana, em que participaram apenas 25.000 pessoas, segundo a imprensa local, num país em que as numerosas e frequentes manifestações são muitas vezes enquadradas por um número de agentes superior ao dos participantes.
Mas, no caso das festividades de Halloween em Itaewon, não havia um responsável pela organização. Os foliões reuniram-se espontaneamente para participar em festas em diversos bares, clubes e restaurantes.
O prefeito de Seul, Oh Se-hoon, emitiu um pedido público de desculpas, dizendo em lágrimas que se sentia “infinitamente responsável por este acidente”.
O Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, disse hoje que a Coreia do Sul precisa de melhorar “urgentemente” o sistema de gestão de multidões.
“A segurança das pessoas é importante, existindo ou não um organizador do evento”, afirmou Suk-yeol numa reunião com membros do Governo, a quem pediu que o país se dote de “tecnologias avançadas” para melhor gerir as multidões.
No entanto, vários analistas locais adiantaram que essas ferramentas já existem e que não foram usadas em Itaewon.
A câmara de Seul tem um sistema de monitorização de multidões em tempo real, que usa dados dos telemóveis para prever o tamanho da participação num evento, mas não foi usado na noite de sábado, de acordo com relatos da imprensa local.
As autoridades do distrito de Itaewon também falharam em criar patrulhas de segurança, com as autoridades a dizer que o evento de Halloween foi considerado mais como um “fenómeno” do que um “festival”, o que exigiria um plano oficial de controlo de multidões.