Duas semanas depois das aulas terem começado, os diretores escolares e os pais estão preocupados. Este ano para além de todos os cuidados por causa da pandemia, há um problema que está a gravar-se: milhares de alunos continuam sem aulas porque faltam professores, especialmente no sul do país, com Lisboa e Vale do Tejo a liderar a lista.
Além da crónica falta de docentes, somam-se as ausências provocadas pelo risco da Covid-19, que levou muitos a meter baixa.
Até agora já foram colocados mais de metade dos docentes disponíveis através das reservas de recrutamento (a 4.ª saiu na sexta-feira), uma situação que no ano passado aconteceu só em dezembro.
Nesta altura, pelas contas do blogue do professor Arlindo Ferreira, dedicado a questões de educação, faltam 851 professores.
Lisboa, Setúbal e Faro são os distritos onde a falta de docentes mais se faz sentir. Só no agrupamento de escolas das Laranjeiras, em Lisboa há 16 profissionais por colocar.
Esta situação origina muitos furos nos horários de milhares de alunos, como diz Rui Martins, presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE). “As aulas começaram a 16/17 de setembro e até hoje há muitas turmas que não têm professores a uma ou duas disciplinas.”
Nesta altura, há 136 horários completos por preencher. Só no grupo de Informática são 106, mas os grupos de Inglês, Matemática, Geografia e Eletrotécnia também têm falta de professores.
“Percebe-se que é mais no Sul do país, uma parte do Alentejo e Algarve, mas a incidência é enorme em Lisboa e Vale do Tejo. Temos que isto se alastre ao resto país…de facto escasseiam os professore”, reconhece Filinto Lima, presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas.
Segundo este responsável, a falta de docentes só pode ser atenuada com uma carreira mais atrativa ao mesmo tempo que é preciso combater a precariedade.
Este ano por causa da pandemia por Covid-19, mais de duas centenas de professores de risco estão de baixa uma situação, o ainda assim, para Filinto Lima tem um impacto reduzido no sistema. “Esta profissão não é motivadora. Temos até bastantes professores contratados, que estão no sistema já há 15 ou 20 anos, mas não entram para os quadros. Já alguns dos professores que estão nos quadros de agrupamento começam a pedir meia jornada e licenças sem vencimento por um ano ou mais, porque querem experimentar outras atividades, eventualmente mais rentáveis, como melhor futuro, em prejuízo da Educação.”
Atualmente, estão por colocar cerca de 12 mil docentes, a maior parte do Norte do país, mas que não querem dar aulas em regiões onde o custo de vida é mais elevado. O vencimento muitas vezes não dá para pagar as despesas de aluguer de casa e o transporte.