Da sustentabilidade ambiental à sustentabilidade dos diferentes: como se atrevem?
04-10-2019 - 16:14

Se o autismo pudesse ser diagnosticado em fase pré-natal, não teríamos uma jovem de 16 anos a enfrentar uma causa que é de todos nós…

Greta Thunberg é, sem dúvida, um exemplo impressionante. O assunto por que se bate e as suas consequências e os motivos da sua projeção já foram por muitos escalpelizados. Não irei por aí…

De facto, o que mais me impressiona, e que muitos não valorizam, é o facto de esta jovem ser autista. Há quatro anos, ela foi diagnosticada com Asperger, síndrome no espectro do autismo. "Ser diferente é um presente", dizia ela num programa de rádio, mas nós enquanto sociedade tendemos a afirmar que “ser diferente é uma maldição".

Toda a medicina moderna é, de facto, focada em curar esta diferença. Se aquele país realizasse um diagnóstico genético pré-natal onde fosse possível antecipar que esta criança nasceria com este diagnóstico, o que lhe teria acontecido? Por certo seria considerado, por muitos, um motivo robusto suficiente para interromper a gravidez. E se, através das técnicas de edição de genoma, fosse possível alterar esta condição, o que fariam? Por certo aceitariam sem quaisquer reservas. Mas vejam, é a esta pessoa, que muitos aceitariam sem dificuldade eliminar, que o mundo se rende. Independentemente de achamos bem ou mal não a causa mas a forma de defender a causa, o facto incontornável é que ninguém é indiferente…

Mas como podemos conviver com esta contradição? Greta é originária de uma parte da Europa onde, tal como acontece noutras partes do mundo, já quase não nascem crianças com Síndrome de Down. A eugenia relacionada com a eliminação de embriões ou fetos ditos “não normais” é hoje um facto indiscutível. Ser diferente nem sempre é um presente. Mas, sem dúvida, precisamos de ir além dos rótulos para ver as pessoas, garantindo que todos têm a oportunidade de desfrutar de uma existência o mais significativa possível e de sobressair na diferença.

Se, realmente, o autismo pudesse ser diagnosticado em fase pré-natal, não teríamos uma jovem de 16 anos a enfrentar uma causa que é de todos nós… Resgatando as suas palavras no discurso mais recente: “Os olhos das futuras gerações estão sobre todos. E se escolherem fracassar, eu digo: nós jamais vos perdoaremos. Nós não vos vamos deixar fazer isso. É aqui e agora que nós colocamos um limite. O mundo está a despertar e a mudança vai chegar, quer queiram ou não.”

Sustentabilidade da diferença é também a nossa causa. “Como se atrevem?”, perguntaria Greta. Também nós, enquanto sociedade, teremos de nos perguntar: “Como nos atrevemos?”