Praticamente desde o início do mandato do presidente Trump que se fala na hipótese de lhe ser instaurado um processo de destituição (“impeachment”). A líder dos democráticos na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, opôs-se sistematicamente a uma tal iniciativa – até há dois dias.
Pelosi objetava com a tradição. Contra três presidentes americanos foram desencadeados processos de destituição: Andrew Johnson (1851), Richard Nixon (1974) e Bill Clinton (1998). Nenhum processo levou a uma destituição; Nixon até abandonou a Casa Branca no início do processo e os outros dois processos foram “chumbados” no Senado.
Se agora os democráticos detém a maioria na Câmara dos Representantes, já no Senado a maioria é dos republicanos. E para aprovar a destituição de um presidente é necessária uma super-maioria no Senado: teriam 20 senadores republicanos de votar contra Trump, o que não se afigura provável.
Por outro lado, a Trump provavelmente não desagradará enfrentar durante meses um processo de “impeachment”. Fazer o papel de vítima face aos globalistas, jornalistas, políticos democráticos, etc. poderá mobilizar os apoiantes do presidente, levando-o a ganhar um segundo mandato em novembro do próximo ano.
Então, porque mudou de ideias Nancy Pelosi e quer agora iniciar um processo de destituição de Trump? Porque a administração deste presidente recusa sistematicamente prestar informações ao partido democrático no Congresso. E porque o último “caso” foi uma gota de água que fez transbordar o copo: Trump terá solicitado ao presidente da Ucrânia que mandasse investigar os negócios naquele país de um filho de Joe Biden, provável opositor democrático de Trump nas eleições de novembro de 2020. E nesse quadro terá jogado, ainda, com a concessão de ajuda militar americana à Ucrânia.
Tornou-se, assim, impossível a Nancy Pelosi resistir aos inúmeros apelos de políticos democráticos a desencadear um processo de destituição ao presidente, que teria violado a constituição americana. Resta saber se, ao fim e ao cabo, tudo isto não irá beneficiar a reeleição de Trump.