A loja "A Vida Portuguesa", um projeto de Catarina Portas na Baixa de Lisboa, vai fechar portas para dar lugar a um alojamento local.
“Não somos uma exceção”, escreve a loja "A Vida Portuguesa" no dia em que anuncia que terá de fechar as portas daquela que foi a primeira de todas as lojas deste projeto comercial que pretende dar vida aos produtos feitos em Portugal.
“É com imensa tristeza” que "A Vida Portuguesa" anuncia que este será o último Natal na morada da Rua Anchieta 11, no Chiado. Criada há 17 anos, a loja vai encerrar no final da Primavera, lê-se no comunicado enviado à redação da Renascença.
Em causa está a transformação do espaço da loja. “Vale a pena refletir sobre isto”, refere "A Vida Portuguesa".
“Tal como o turismo nos ajudou a passar a crise de 2008, hoje são os seus próprios agentes a condenar ao desaparecimento o comércio independente da cidade”, indicam.
“O espaço ocupado agora pela loja será transformado, a partir do próximo Verão, num complemento ao alojamento local de luxo em que se transformou nos últimos anos o prédio” da Rua Anchieta, explica a loja.
“Quisemos provar que era possível fazer uma loja de espírito contemporâneo, preservando escrupulosamente um espaço antigo que encontrámos abandonado, com um objetivo que nos fazia sentido: vender o que de melhor Portugal fabrica, não temendo o tradicional nem as marcas de sempre”, recordam.
O espaço comercial, que vendeu nos últimos anos muitos dos produtos fabricados em Portugal, desde o simples sabonete, à pasta dos dentes, passando pela cerâmica, joalharia e produtos alimentares, tem sido uma atração não só de turistas, como dos portugueses.
“Esta loja foi recomendada, gabada e celebrada na comunicação do mundo inteiro, fosse numa coluna de opinião do El País, numa reportagem da Marie Claire francesa, em prémios e convites da Monocle, artigos na Folha de São Paulo ou no The Guardian, menções no The New York Times ou reportagens televisivas pelo mundo”, refere A Vida Portuguesa
Hoje, a marca tem já outras lojas abertas, uma no Largo do Intendente e outra no Time Out Market do Mercado da Ribeira que “continuarão de portas abertas”. A Vida Portuguesa refere ainda o projeto “Depozito”, “onde se reúne artesanato tradicional e contemporâneo de todo o país, uma loja em parceria com a Portugal Manual, perto do Intendente” que manterá em funcionamento.
Contudo, este espaço comercial procura agora outro espaço para substituir aquela que foi a primeira loja, a do Chiado que em breve encerrará.
Segundo A Vida Portuguesa, “o comércio é, pela sua própria natureza, oportunista”. Segundo este espaço comercial, “o centro de Lisboa está hoje em mutação. O Chiado e a Baixa transformam-se numa paisagem indistinta de marcas globais que se multiplicam em espaços de forma sufocante”.
A Vida portuguesa interroga-se: “Queremos as mesmas marcas e as mesmas lojas em todas as ruas de todas as cidades do mundo, até vivermos todos em cidades iguais ou numa mesma cidade global?”. Perante a pergunta, esta loja que comercializa produtos de mais de 400 diferentes fornecedores do país lembra que “não está fácil para os lojistas independentes”
“São os males de um turismo que procura apenas o lucro individual e só consegue tropeçar no curto prazo, sem querer entender as transformações que opera na cidade a médio e longo prazos e assumir as suas responsabilidades numa estratégia mais vasta e melhor pensada, para todos”, critica A Vida Portuguesa que incentiva os seus clientes a comprar português.