PS descreve Sampaio como um "intérprete notável da solidariedade sem fronteiras"
10-09-2021 - 12:45
 • Lusa

Jorge Sampaio morreu nesta sexta-feira, aos 81 anos.

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O Partido Socialista manifestou nesta sexta-feira os seus "mais profundos sentimentos" pelo falecimento de Jorge Sampaio, referindo que "Portugal e o mundo despedem-se" de um "intérprete notável da solidariedade sem fronteiras e sem barreiras".

"O Partido Socialista, ao tomar conhecimento do falecimento do ex-presidente da República e seu antigo secretário-geral camarada Jorge Sampaio, vem tornar públicos os seus mais profundos sentimentos pela partida de um dos seus e, mais que isso, de um dos melhores de nós todos, portugueses. Portugal e o mundo despedem-se hoje de um intérprete notável da solidariedade sem fronteiras e sem barreiras", lê-se numa nota de pesar do Partido Socialista.

No comunicado, o PS retraça a vida de Jorge Sampaio referindo que, "o avolumar da sua consciência política viria a dar-se enquanto estudante universitário" na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo-se tornado num "dos grandes nomes e rostos da contestação estudantil ao regime ditatorial que desencadeou a crise académica de 1962".

"A sua atividade política e intelectual desta altura fica marcada pela constância e pela resistência à ditadura, defendendo um novo modelo, em que imperassem a polifonia democrática e a liberdade, de base socialista e em sintonia com os novos contornos daquele que era o novo pensamento político europeu", lê-se no comunicado.

Do Estado Novo ao PS

Além disso, o PS salienta que, durante o Estado Novo, Jorge Sampaio foi um "advogado de mérito, tendo frequentemente representado presos políticos" e lutado "pelo papel cívico dessa classe profissional e pelo estabelecimento das liberdades e de um regime democrático que atendesse a todos".

Após a revolução de 25 de Abril de 1974, o PS relembra que Jorge Sampaio "foi fundador do Movimento de Esquerda Socialista (MES), que viria a abandonar logo no primeiro congresso" e, em março de 1975, tornou-se secretário de Estado da Cooperação Externa no 4.º Governo Provisório.

Tendo aderido formalmente ao PS em 1978, Jorge Sampaio é eleito à Assembleia da República em 1979 nas listas socialistas, tendo presidido ao grupo parlamentar entre 1986 e 1987 e sido secretário-geral do partido entre 1989 e 1992.

Recordando também a sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa em 1989, o PS refere que se tratou de um "importante passo" no percurso político de Jorge Sampaio, que conseguiu "formar uma candidatura multipartidária e com grande representação cívica e associativa".

"Marcou o desempenho dessas funções pela visão estratégica, por uma preocupação social fortemente inclusiva e por uma modernização da cidade de que hoje todos os lisboetas beneficiam", frisa o PS.

Um Presidente humanista

Abordando também os dois mandatos de Jorge Sampaio enquanto Presidente da República, entre 1996 e 2006, o partido refere que esse período "carrega a marca indelével da cultura humanista" do estadista e ficou também marcado "pela reflexão em torno dos poderes do Presidente da República, enquanto referência e baluarte de estabilidade política e do regular funcionamento das instituições democráticas".

"Mas não se esgota aí. Além-fronteiras, e além de um forte impulso à plena integração europeia, o Presidente da República Jorge Sampaio fez ecoar em todo o mundo a voz de Portugal na defesa da causa pela independência de Timor e presidiu à transferência de Macau para a República Popular da China", lê-se na nota.

Após a Presidência, o PS sublinha que "Jorge Sampaio continuou a pautar a sua vida pela defesa dos valores humanistas, da ética e da solidariedade", dando o exemplo tanto "do conjunto da sua obra publicada, versando temas culturais, sociais e políticos, nacionais e internacionais", como da criação da Associação da Plataforma Global para Estudantes Sírios (APGES).

Papel no plano internacional

O PS destaca ainda que, em maio de 2006, Jorge Sampaio foi nomeado enviado especial da ONU para a luta contra a tuberculose e, em abril de 2007, nomeado alto representante da ONU para a aliança das civilizações.

"A ONU reconheceria o trajeto mundial de Jorge Sampaio na defesa dos direitos humanos, ao escolhê-lo para ser um dos vencedores do Prémio Nelson Mandela em 2015, na primeira vez na história das Nações Unidas que o prémio foi atribuído".


Endereçando assim as "mais sentidas condolências" e manifestando "a mais profunda solidariedade" à esposa de Jorge Sampaio, Maria José Ritta, assim como aos "filhos e demais familiares e amigos", o PS afirma que saberá "desempenhar com elevação o dever de manter viva a chama da memória" de Jorge Sampaio, e a sua "luta incansável por um mundo melhor para todos".

"Hoje, no dia em que o grande coração do nosso Camarada Jorge Sampaio deixou de bater, é altura de os socialistas e todos os portugueses lhe prestarem uma última homenagem de reconhecimento. Usando palavras que ele mesmo dirigiu aos lisboetas, é altura de lhe deixar um aceno de eterna saudade", indica o comunicado.

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu hoje aos 81 anos, no hospital de Santa Cruz, em Lisboa.