Uma organização de investigação de Taiwan ligada à inteligência artificial denunciou uma campanha de desinformação da China para tentar influenciar as eleições presidenciais e legislativas na ilha, que se realizam no sábado.
A AI Labs, que tem uma parceria com o Governo, detetou que a China utilizou “de forma proeminente”, de setembro a novembro de 2023, ameaças de guerra contra Taiwan, acusando as autoridades de Taipé de empurrarem a ilha para a guerra.
“Em dezembro, com a aproximação das eleições, o tom das ameaças de guerra diminuiu e a China passou a dar ênfase às questões educativas e económicas”, disse a AI Labs num relatório divulgado esta semana.
A República Popular da China (RPC) e Taiwan vivem autonomamente desde 1949, quando o Partido Comunista Chinês (PCC) derrotou os nacionalistas do Kuomintang (KMT), que se refugiaram na ilha.
Desde então, Pequim reclama a soberania de Taiwan e ameaça tomá-la pela força se Taipé declarar a independência.
Taiwan vai escolher no sábado o presidente e o parlamento, por maioria simples, entre três candidatos: William Lai (Partido Democrático Progressista (DPP), no poder), Hou Yu-ih (KMT) e Ko Wen-Je (Partido do Povo de Taiwan, TPP).
Lai, atual vice-presidente de Taiwan, lidera as sondagens e é visto pela China como um separatista.
Numa conferência de imprensa na terça-feira, Lai acusou Pequim de estar a interferir nas eleições através de “ameaças militares, coerção económica, guerra cognitiva [e] desinformação”.
As verificações da AI Labs estão em linha com outras denúncias de campanhas de desinformação atribuídas a Pequim, como a de que Taiwan está a importar dos Estados Unidos carne de porco envenenada.
Segundo a televisão britânica BBC, outras das “mensagens” em circulação é a de que sangue recolhido em Taiwan será enviado para os Estados Unidos para construir uma arma biológica para atacar a RPC.
A batalha para influenciar os eleitores taiwaneses tem sido travada ‘online’ há meses, com os utilizadores da Internet a aprovar, comentar e partilhar vídeos nas redes sociais.
Alguns dos vídeos partilhados no TikTok são provavelmente provenientes do Douyin, a versão da aplicação disponível na RPC, segundo equipas de investigação digital da agência francesa AFP.
O material mais difundido diz respeito a Hsiao Bi-khim, candidata a vice-presidente ao lado de William Lai.
“Ela é estrangeira”, disse um utilizador num dos muitos vídeos partilhados sobre Hsiao no TikTok, transmitindo a ideia de que mantém secretamente a cidadania norte-americana e que, por isso, não é elegível.
Hsiao tem afirmado repetidamente que renunciou à cidadania norte-americana há décadas, e a AFP encontrou o seu nome numa lista do Governo dos Estados Unidos de pessoas que renunciaram à cidadania.
Os peritos consideram tratar-se de um exemplo da vontade de Pequim de utilizar informações falsas ou afirmações parcialmente verdadeiras para desacreditar figuras políticas que se opõem à ideia de que Taiwan faz parte da China.
“Taiwan está a enfrentar um rival extremamente bem equipado e motivado para conquistar corações e mentes”, disse à AFP o especialista em China Jonathan Sullivan, da Universidade de Nottingham, Inglaterra.
Já em maio de 2022, contas que se faziam passar por utilizadores taiwaneses começaram a publicar vídeos e ‘memes’ políticos como parte de um “esforço sustentado e coordenado”, afirmou a empresa de investigação norte-americana Graphika num relatório recente.
A China há muito que se opõe ao DPP, o partido da Presidente Tsai Ing-wen, que está no poder desde 2016.
Tsai considera Taiwan um Estado soberano ‘de facto’ e não aceita as reivindicações de Pequim sobre o território de 23 milhões de habitantes.
Com Lai a liderar as sondagens, um alto funcionário chinês descreveu a votação como uma escolha entre a guerra e a paz.
Pequim rejeita as alegações como “rumores” e insiste: "Só há uma China no mundo e Taiwan é uma parte inalienável da China”.